Em 72 horas, Moscovo aumentou cada 1.000 metros cúbicos de gás vendidos à antiga república soviética de 268 para 485 dólares (de 194 para 352 euros), um dos preços mais elevados praticados na Europa.
A decisão está a ser considerada mais uma medida punitiva após o derrube do regime de Viktor Ianukovich, que mantinha relações de proximidade com Moscovo, pelas forças da oposição durante os protestos de finais de fevereiro em Kiev.
A redução do preço do gás russo fornecido à Ucrânia constituía uma contrapartida para a assinatura de um acordo comercial entre os dois países após Ianukovich ter decidido suspender um acordo de associação com a União Europeia em finais de novembro, que foi o pretexto para o início da revolta em Kiev.
Em março, e na sequência de um referendo local não reconhecido por Kiev e pelo ocidente, a Rússia integrou no seu território a península da Crimeia.
Após a utilização da nova "arma do gás", o primeiro-ministro interino ucraniano, Arseni Iatseniuk, denunciou uma decisão "política" e "destinada a minar as bases económicas e sociais do país".
De acordo com uma estimativa hoje divulgada pelo Banco Mundial, a Ucrânia, que continua confrontada com a instabilidade política, deverá agora mergulhar na recessão, com uma queda do PIB de 3%, para além de uma dívida em alta de cinco pontos para 86% do PIB em 2014.
"Certos setores da economia ficarão no limite da sobrevivência", advertiu, citado pela agência noticiosa AFP, Dmytro Marunych, um especialista do setor energético. Marunych referiu-se à indústria química, designadamente os adubos e a metalurgia, áreas onde os custos de produção podem aumentar 15%, implicando a sua perda de competitividade.
Para a população, está anunciado um aumento de 50% do preço do gás para 1 de maio, seguido de outro de 40% para o aquecimento urbano, que no entanto será suspenso no fim desta semana com a chegada da primavera.
Kiev deverá procurar alternativas e Iatseniuk já evocou a possibilidade de negociações com os parceiros europeus para fazer retornar à Ucrânia uma parte do gás russo vendido à Europa, e que transita pelo território ucraniano, a preços inferiores aos que Moscovo pretendem impor a Kiev.
Caso se concretize esta opção resta saber qual a resposta de Moscovo, quando a Europa permanece muito dependente dos abastecimentos russos.
O ministro ucraniano da Energia, Iuri Prodan, já considerou que em 2014 deverá ser "utilizado ao máximo, em vez do gás, o carvão produzido no país". De acordo com a Agência internacional de energia, o carvão cobre atualmente 30% das necessidades energéticas do país, contra 40% para o gás.