"É sempre uma preocupação, mas estamos a trabalhar muito próximos com o governo (angolano). Penso que será parte do nosso diálogo quando lá estivermos, ter a certeza de que estamos todos na mesma página e a trabalhar seguindo as mesmas regras e entendimentos sobre o que temos de fazer", disse o chefe da diplomacia de Washington.
A declaração foi feita numa entrevista publicada esta semana na página da internet da Secretaria de Estado, depois de Kerry ter sido questionado sobre o regime angolano e sobre se o governo de José Eduardo dos Santos seria autoritário.
Numa entrevista ao site "All Africa" divulgada hoje, Kerry explicou o motivo da sua preocupação.
"A corrupção não apenas enfraquece os recursos de um governo, como nega aos cidadãos os serviços que eles merecem. Acredito que uma sociedade aberta e livre é uma sociedade que prospera economicamente. Vamos sempre apoiar estas ideias e princípios nas nossas relações bilaterais em todo o mundo. É por isso que monitorizamos de perto a situação em Angola", disse o Secretário de Estado norte-americano.
Kerry disse que os Estados Unidos, apesar de "sublinharem rapidamente as suas preocupações com Angola na comunidade internacional", também "acolhem a liderança de Angola em África e nos assuntos mundiais."
"Sentimo-nos particularmente encorajados pela sua liderança na região dos Grandes Lagos e no Processo de Kimberley (mecanismo de controlo do comércio de diamantes). Também aplaudimos os seus esforços para resolver as suas próprias crises humanitárias, repatriando e reintegrando cerca de 500 mil refugiados e muitos outros milhões de pessoas deslocadas internamente desde o fim da Guerra civil em 2002", enumerou o Secretário de Estado.
Kerry acrescentou ainda que "Angola tem dado neste momento muito apoio e sido uma grande ajuda em muitos, muitos assuntos."
Segundo um comunicado de imprensa do Departamento de Estado, John Kerry apresentará cumprimentos ao Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, e debaterá relações bilaterais com o ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti.
"Estamos esperançosos de que conseguiremos clarificar a imagem do caminho que temos de seguir", disse Kerry na entrevista publicada hoje.
A deslocação de Kerry a África, que para além de Angola inclui também a Etiópia e a República Democrática do Congo (RDC), pretende, segundo o comunicado do departamento de Estado, "incentivar o desenvolvimento democrático, promover o respeito pelos direitos humanos, promover a paz e a segurança, contactar a sociedade civil e os jovens líderes africanos", tendo em visa a promoção do comércio, investimento e desenvolvimento de parcerias.
Na capital etíope, Adis Abeba, John Kerry vai participar na 4.ª Reunião de Diálogo de Alto Nível Estados Unidos - União Africana.
Em Kinshasa, Kerry tem em agenda uma reunião com o Presidente da RDC, Joseph Kabila, para debater a situação no leste do país, marcada pela instabilidade provocada por grupos armados rebeldes.
John Kerry inclui na comitiva para a deslocação africana a secretária de Estado Adjunta para os Assuntos Africanos, Linda Thomas-Greenfield, o enviado especial para os Grandes Lagos e República Democrática do Congo, Russell Feingold, o enviado especial para o Sudão e o Sudão do Sul, Donald Booth, e a embaixadora itinerante para as Questões da Mulher, Catherine Russell.
A visita de Kerry a Angola ocorre cerca de três semanas depois de Linda Thomas-Greenfield e Russel Feingold, terem mantido contactos oficiais em Luanda.
Angola ocupa desde janeiro passado a presidência da Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos (CIRGL).