O alerta foi lançado hoje pelo Consórcio de ONG (Organizações Não Governamentais) da Somália, que inclui 19 instituições locais e internacionais, entre as quais a Action contre la Faim (ACF), Acted, Oxfam, Solidarités International ou World Vision, em comunicado, no qual se chama também a atenção para a falta de fundos para ajudar a evitar a crise.
"Os sinais de seca reapareceram na Somália [...] e não devem ser ignorados para evitar voltar a cair nas mesmas condições que levaram à catástrofe de 2011", lê-se no comunicado divulgado pelo consórcio, e citado pela agência de notícias francesa, AFP.
As ONG apelaram a "uma ajuda urgente e que se prolongue pelos próximos três a seis meses para evitar uma repetição da catástrofe de 2011", afirmando que estão reunidos menos de 30% dos fundos necessários para fazer face à atual crise na Somália.
A 20 de julho de 2011, precisamente há três anos, quando uma das piores secas em 50 anos afetou mais de dez milhões de pessoas na região do Corno de África, a ONU (Organização das Nações Unidas) declarou o estado de fome em diversas regiões da Somália, onde a situação de guerra e caos permanente desde 1991 agravou a catástrofe climática.
Esses seis meses de fome, que se estenderam a todo o país, fizeram quase 260 mil mortos, metade dos quais crianças com menos de cinco anos de idade, num balanço superior à grave crise de fome de 1992, e uma das piores fomes no mundo nos últimos 25 anos, de acordo com um estudo publicado em 2013, refere a AFP.
De acordo com esse estudo coordenado pela ONU e pela Rede de alerta precoce de fome (Fews Net), financiado pela agência americana para o desenvolvimento (USAID), "4,6% da população total e 10% das crianças com menos de cinco anos morreram no sul e centro da Somália" durante a fome de 2011, e a resposta humanitária foi "insuficiente e tardia".
De acordo com o consórcio de ONG há atualmente "mais de 300 mil crianças subnutridas e 2,9 milhões de pessoas a precisar de um apoio vital e de meios de subsistência na Somália".
"Espera-se que este número continue a crescer se as condições continuarem a agravar-se", referiram.
As ONG frisaram que 1,1 milhões de pessoas deslocadas são particularmente vulneráveis e que "os habitantes mais afetados ainda não se refizeram das perdas massivas sofridas durante a seca e fome de 2011".
A UNICEF estimou que 50 mil crianças estão já a sofrer de grave subnutrição e que 200 mil possam vir a morrer de fome ainda este ano, por falta de ajuda humanitária.
"O atual défice de financiamento significa que os programas de ajuda e que fornecem serviços vitais correm o risco de fechar", acrescentou o consórcio.
A escassez alimentar estende-se à quase totalidade do país e várias regiões estão já em crise devido à falta de chuva, à subida do preço dos cereais e da continuação das condições de insegurança devido ao conflito que opõe o Governo e as forças militares internacionais aos rebeldes islamitas Shebab.
A FSNAU, a agência da ONU para o controlo alimentar e de nutrição, estimou no início deste mês que a crise alimentar na Somália deverá agravar-se nos próximos meses e que a capital, Mogadíscio, está próxima do nível de emergência, o último antes de ser declarado o estado de fome, de acordo com a escala utilizada pela agência.