"O futuro é de esperança se, entre irmãos, cada um assumir as suas responsabilidades e os compromissos forem respeitados dia-a-dia nas palavras e nos atos. É para esse futuro de esperança que todos os moçambicanos com os olhos postos em nós nos estão a chamar", afirmou o líder do principal partido da oposição moçambicano.
O Presidente moçambicano, Armando Guebuza e Afonso Dhlakama ratificaram hoje, em Maputo, o acordo de cessação de hostilidades militares, que resultou de negociações entre a Renamo e o Governo moçambicano, com vista ao fim da crise militar que abalou Moçambique durante mais de um ano e meio, provocando vítimas mortais e feridos, incluindo civis.
Num discurso em que não quis "ajustar contas com o passado", Dhlakama procurou justificar as motivações da crise político-militar que o seu partido despoletou, cujos maiores impactos se fizeram sentir na região centro do país.
"Depois de tantos anos de democracia, não há razão para que se mantenham desigualdades tão gritantes e que irmãos nossos vivam em condições tão difíceis e longe de todos os benefícios da civilização moderna, sem hospitais, escolas, oportunidades dignas de emprego e promoção social, que a independência e a democracia lhes prometeram", declarou o líder da Renamo.
Considerando que o acordo de Roma, assinado em 1992 e que pôs fim à guerra civil [1976-1992] moçambicana, serviu para lançar a democracia, Dhlakama disse esperar que o novo entendimento possa "acabar com o Estado de partido único", numa crítica à governação da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder há 39 anos.
"Quando os interesses dos representantes se sobrepõem aos interesses dos representados a democracia está em risco e o Estado deixa de servir o povo e fica ao serviço de um punhado de privilegiados com acesso aos corredores do poder", sublinhou.
Numa nota de agradecimento dirigida à comunidade internacional pelo seu envolvimento no recente processo de reconciliação, Dhlakama saudou em particular os embaixadores de Itália, Estados Unidos, Portugal, Botsuana e Reino Unido "que se empenharam diretamente na última fase do processo" e "porque a eles se deve" o seu "regresso em segurança à capital do país e à concretização do novo acordo".
O acordo hoje celebrado por Armando Guebuza e Afonso Dhlakama contempla a Declaração de Cessação das Hostilidades Militares, o Memorando de Entendimento, Mecanismos de Garantia de Implementação do Acordo de Cessação das Hostilidades, bem como os Termos de Referência da Missão de Observadores Militares Internacionais.
Ao abrigo do pacto, o principal partido da oposição vai entregar para desarmamento a "força militar residual" que mantinha ao abrigo do Acordo Geral de Paz assinado em 1992 e que pôs termo a 16 anos de guerra civil.