Protestos em Hong Kong "não vão acabar como Revolução dos Cravos"

Os protestos pela democracia em Hong Kong estão hoje a ser acompanhados de perto por ativistas de Macau, como Jason Chao, que disse à agência Lusa recear o desfecho das manifestações.

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Lusa
29/09/2014 08:44 ‧ 29/09/2014 por Lusa

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Confrontos

"A menos que haja novos fatores emergentes, os protestos pela democracia em Hong Kong não vão acabar como a Revolução dos Cravos em Portugal. O Governo chinês parece estar a ser muito duro e muito restritivo no que diz respeito às reformas políticas, mas os valores universais são bastante valorizados pela humanidade e todas as pessoas devem ter direitos políticos iguais", afirma à Lusa. "E nesse aspeto dou o meu apoio total às pessoas de Hong Kong que lutam pelo sufrágio universal", acrescenta.

Jason Chao, um dos líderes da associação Consciência de Macau, que recentemente organizou um referendo civil sobre o sufrágio universal naquele território, tem estado desde sexta-feira a acompanhar os protestos junto ao complexo governamental de Hong Kong, "na qualidade de observador".

"O mais espantoso é que nenhum dos movimentos de Hong Kong está a liderar. Isto é um milagre, não há organizadores, os cidadãos tomam decisões coletivas através da Internet", disse.

"No final, espero que os cidadãos de Hong Kong consigam o que querem, que é também o eu quero e pelo qual luto em Macau. E também espero que as manifestações acabem pacificamente. Mas neste momento, não penso que acabe como a Revolução dos Cravos", rematou.

No domingo à noite, a Consciência de Macau, emitiu um comunicado condenando "veementemente o uso de força por parte do Governo de Hong Kong contra cidadãos desarmados que participavam numa manifestação pacífica".

Em Hong Kong está também o estudante universitário de Macau Kin Long Wong, que assistiu aos protestos a partir da Universidade Chinesa de Hong Kong, onde estuda, enquanto transmitia os acontecimentos às pessoas de Macau através de uma página no Facebook.

"Às 18:00 [11:00 em Lisboa] lançaram pela primeira vez gás lacrimogéneo. As pessoas fugiram e depois voltaram. Isto aconteceu a noite toda", lembra.

Foi com surpresa que Kin Long Wong assistiu ao uso de força por parte da polícia, que a certa altura chegou mesmo a empunhar um cartaz avisando a multidão de que se não recuasse iria disparar, ainda que munições de borracha - tal acabou por não acontecer.

"Fiquei chocado, não podia acreditar que estavam a usar gás lacrimogéneo em manifestantes pacíficos", conta.

O estudante defendeu que "as pessoas de Macau têm de apoiar as pessoas de Hong Kong. O que eles conseguirem vai afetar Macau significativamente. Se falharem, também falham as pessoas de Macau".

No território têm surgido manifestações de solidariedade, com um grupo de cerca de 40 pessoas a juntar-se domingo à noite junto à Igreja de São Domingos, onde habitualmente se realiza a vigília pelo massacre de Tiananmen.

"Não estão sozinhos. Macau apoia a democracia em Hong Kong", lia-se num cartaz colocado no chão, rodeado de velas.

Segundo Rocky Chan, membro da Novo Macau, a maior associação pró-democracia do território, um grupo de estudantes está a organizar um protesto em frente à Assembleia Legislativa para o dia 01 de outubro, Dia Nacional da China. Os estudantes pediram a apoio da associação que já se disponibilizou a ajudar.

Em Taiwan, os estudantes de Macau também se juntaram às manifestações de apoio. Com o líder dos estudantes de Hong Kong em Taipé retido da Região Administrativa Especial, é Scott Chiang, vice-presidente da Associação Novo Macau, quem está encarregue de organizar o movimento que domingo à noite se reuniu junto ao edifício de representação de Hong Kong em Taipé e hoje voltou a juntar-se ao início da tarde.

"Vou distribuir laços amarelos. Ontem [domingo] eram centenas de pessoas, mas de Macau apenas uma mão cheia. Ainda estão a vir de outras cidades", explicou o ativista.

"Vejo que as pessoas não têm medo. A polícia usa gás lacrimogéneo, as pessoas afastam-se e voltam. Não funciona. Gostava que as pessoas de Macau conseguissem perceber porque é que em Hong Kong aceitam ser alvo desta violência. Estão a lutar pela liberdade. A vida é mais do que fazem dinheiro e comer, o que é um pensamento muito comum em Macau", comentou.

Em Hong Kong, horas depois de confrontos registados entre manifestantes e polícia, uma multidão continuava esta manhã pacificamente concentrada nas imediaçõess da sede do Governo, no centro da cidade.

Por volta do 12:00 (05:00 em Lisboa), o lixo era recolhido e algumas vias rodoviárias eram reabertas ao trânsito. Populares subiam a uma plataforma para falar em altifalantes: "De acordo com as últimas notícias, o Governo anuncia que vai mandar mais agentes da polícia para cá [Admiralty] e insta os cidadãos de Hong Kong a dispersar, mas nós pedimos aos polícias para fazerem greve. Nós ficamos até ao fim".

 

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