"Vimos (a apreensão de 521 quilos de droga na ilha de São Vicente) com preocupação, porque confirma-se que Cabo Verde está a ser usado como ponto de passagem para droga e isso é uma ameaça para o país", começou por comentar à agência Lusa Ulisses Correia e Silva, após integrar uma comitiva da Internacional Democrata do Centro em África (IDC-África) que foi recebida hoje pelo Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca.
"Mas também vimos com satisfação, porque isso demonstra que a PJ está a atuar, mesmo com os problemas de funcionamento e de meios, mas dão respostas efetivas", prosseguiu o presidente do MpD e da IDC-África, considerando que o Governo deve dar mais meios à polícia científica.
"Estimulamos e incentivamos que a PJ seja cada vez mais ativa e que o Governo lhe dê os meios que uma polícia científica precisa. É um investimento que compensa e tem alto retorno em termos de resultados", mostrou Correia e Silva.
O também presidente da Câmara Municipal da Praia disse que o país não pode facilitar com o tráfico de droga.
"Precisamos mostrar cada vez mais que Cabo Verde não pode facilitar com este tipo de tráfico porque deixa efeitos extremamente gravosos. Não é só a passagem. Cria relações no país que são perversas, pode perverter as instituições e a juventude", prosseguiu.
Entretanto, reconheceu que "não há o risco" de Cabo Verde se transformar num narco-estado.
"Não podemos dramatizar, o importante é que estamos a combater, a ser efetivos e a passar uma mensagem muito forte para aqueles que andam no mundo do crime: que não há facilidade porque está em causa a própria existência e o futuro do país. Não pode haver terreno fértil para esse tipo de atividades", terminou Correia e Silva.
Quinta-feira, a Polícia Judiciária cabo-verdiana apreendeu 521 quilogramas de cocaína numa praia na ilha de São Vicente, em valor de mercado correspondente a 2.590 mil contos (cerca de 23,5 milhões de euros).
Oito pessoas foram detidas e começaram a ser ouvidas hoje pelo Tribunal da Comarca de São Vicente.
Na operação, que é fruto de uma investigação da PJ de mais de cinco meses, foram também apreendidas várias viaturas, um barco que servia para transportar a droga e uma arma de fogo.
Trata-se da segunda maior apreensão de droga em Cabo Verde, após a operação "Lancha Voadora", que, em 2011, culminou na maior apreensão de sempre no país: tonelada e meia de cocaína em estado de elevada pureza escondida numa cave de um prédio na Achada de Santo António, na Cidade da Praia, e que foi incinerada a 25 do mesmo mês.
A 28 de junho de 2013, o Tribunal da Comarca da Praia condenou nove dos 15 arguidos a penas de prisão efetiva entre os nove e os 22 anos, dando como provadas as acusações de associação criminosa e lavagem de capitais.