Mauro Prosperi adorava um bom desafio e foi em Marrocos que o encontrou ao percorrer 250 quilómetros de deserto em seis dias, a pé. Quando se inscreveu na maratona teve de deixar uma informação, qual a morada para onde se deveria enviar o cadáver, caso morresse durante a caminhada.
A Maratona do Sables é conhecida por isso mesmo, pelo desafio, perigo e até por colocar as pessoas em risco de vida. Mas para o italiano, “o pior que me pode acontecer é apanhar um escaldão”, disse à BBC em tom de brincadeira.
No início da caminhada tudo corria bem, mas foi ao quarto dia que Mauro foi engolido por uma tempestade. “De repente começou uma violenta tempestade. O vento tinha uma fúria terrível e fui engolido. Era como um furação de agulhas”, conta o italiano.
Ao aperceber-se que estava perdido, o homem que tinha apenas metade de uma garrafa de água, uma faca, bússola, saco de cama e alguma comida tentava de tudo para sobreviver.
Ao segundo dia perdido, avistou uma pequena casa que tinha como habitantes morcegos. Para se alimentar, Mauro decapitou-os e bebeu o sangue destes animais. Também bebeu a própria urina, que guardava numa garrafa. “Foi a primeira coisa que fiz quando percebi que estava perdido, pois é quando estás bem hidratado que a urina é mais limpa e bebível”, lembrou.
Já sem água e desesperado, deixou-se ficar por ali e escreveu uma mensagem para a mulher nessa pequena casa, com uma pedra e cortou os pulsos.
Quando acordou no dia seguinte percebeu que o sangue tinha ficado muito espesso e não escoava. Foi então que decidiu lutar novamente pela sua vida. Começou a caminhar até que avistou cabras e um dia depois viu uma pequena rapariga, que fugiu, assustada. A menina fazia parte de uma tribo.
Quando chegou à tribo foi tratado por várias mulheres, que depois o vendaram e transportaram-no para o hospital. À primeira oportunidade, ligou para a mulher e perguntou-lhe “já fizeste o meu funeral?”.
No hospital verificaram que Prosperi pesava apenas 45 quilos, ou seja, perdeu 16 quilos, além de ter ficado com mazelas no fígado e olhos.
Quatro anos depois regressou à maratona para terminar o percurso e também por sentir a necessidade de regressar todos os anos para “cumprimentá-lo” e “experimentá-lo”.
Até à data já correu oito maratonas e entretanto divorciou-se. Pelo que o italiano diz, a mulher era uma santa, mas ele não consegue abandonar a sua missão.