Sentença de opositor russo antecipada para evitar protestos

A justiça russa antecipou para terça-feira a leitura da sentença do opositor "número um" do Kremlin, Alexei Navalny, para impedir os seus apoiantes de protestarem contra o seu julgamento num caso de desvio de dinheiro que consideram político.

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Lusa
29/12/2014 21:46 ‧ 29/12/2014 por Lusa

Mundo

Navalny

Inicialmente agendada para meados de janeiro de 2015, a leitura da sentença é o epílogo de um ano em que a Rússia deixou a sua marca, desde a anexação da Crimeia ao conflito no leste da Ucrânia, com a deterioração das relações com o Ocidente em fundo.

Acusado pelos seus críticos de ser apoiado pelo Ocidente, Alexei Navalny, carismático 'blogger' conhecido por denunciar a corrupção das elites russas, está a ser perseguido judicialmente, com o seu irmão Oleg, no âmbito de um caso de desvio de dinheiro de uma filial da empresa francesa Yves Rocher e encontra-se em prisão domiciliária.

Navalny poderá ser condenado a dez anos de prisão se o tribunal de Moscovo que o está a julgar concordar com a pena pedida pelo Ministério Público russo.

A hipótese de a sentença do 'blogger', já condenado a cinco anos de pena suspensa, ser uma pena de prisão efetiva desencadeou de imediato apelos para manifestações no dia da leitura, então marcada para 15 de janeiro.

Mas o tribunal anunciou hoje a sua antecipação para 30 de dezembro, às 09:00 locais (06:00 em Lisboa), argumentando ter "já tido tempo para a redigir", segundo a porta-voz do tribunal, Iulia Petrova, citada pela agência de notícias russa RIA Novosti.

Para a advogada do 'blogger', Olga Mikhaïlova, esta súbita alteração de data poderá ter sido causada "pelas polémicas na Internet sobre o facto de pessoas em desacordo com a sentença estarem a preparar-se para se manifestarem na rua a 15 de janeiro".

"Penso que foi essa a razão pela qual se tomou a decisão de mudar de data para amanhã (terça-feira), um dia em que as pessoas estão ocupadas a celebrar o final do ano, muitas pessoas partem [de férias]... É uma data mais prática para tornar pública a sentença", defendeu.

Contudo, a antecipação da data da leitura da sentença não desencorajou os apoiantes do opositor russo: após o anúncio do tribunal, criaram uma nova página na rede social Facebook para convocar uma manifestação para as 19:00 locais (16:00 em Lisboa) na praça do Picadeiro, perto dos muros do Kremlin.

Às 16:00 TMG (e de Lisboa), eram já 7000 os membros da rede social a afirmar que irão a este protesto.

Se a manifestação se realizar, será uma das raras demonstrações de força da oposição ao Presidente Putin desde a anexação, em março, da Crimeia, que permitiu a Vladimir Putin atingir níveis recorde de popularidade, até agora inalterados apesar da crise económica que está a atingir a Rússia, devido às sanções ocidentais e à queda dos preços do petróleo.

"Os russos da classe média habitualmente partem de férias neste período, mas, por causa da crise, ficaram em Moscovo e estão revoltados, tanto por razões políticas quanto económicas", observou a analista Alexei Makarkine.

Para a especialista, "os riscos de confrontos" entre polícias e opositores "aumentam as hipóteses de Navalny ser condenado a uma pena pesada".

Uma análise que é partilhada por Nikolai Petrov, politólogo da Escola Superior de Economia de Moscovo, para quem o julgamento de Navalny faz parte de "uma estratégia posta em prática pelo Kremlin a partir de 06 de maio de 2012".

A reeleição de Putin para um terceiro mandato ficou, então, marcada por uma manifestação maciça, da qual Alexei Navalny foi um dos organizadores e que conduziu à detenção e à condenação judicial a penas de prisão efetiva de muitos manifestantes.

 

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