Chuva impede procissão do Senhor dos Passos de sair à rua

A chuva forte levou hoje ao cancelamento da procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos, em Macau, obrigando a cerimónia a decorrer dentro da Sé Catedral, onde a via da crucificação foi percorrida de forma simbólica.

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Lusa
22/02/2015 12:14 ‧ 22/02/2015 por Lusa

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Macau

A tradição tem cinco séculos e raramente falha: no primeiro domingo da Quaresma, a imagem do Senhor dos Passos é transportada de volta a casa, a Igreja de Santo Agostinho, depois de ter passado uma noite na Sé, para onde foi levada no sábado.

No entanto, este ano, só no sábado é que se puderam cumprir os preceitos habituais. Hoje, centenas de fiéis acotovelaram-se na catedral da Diocese de Macau, mantendo até ao último momento a esperança de que o evento não fosse cancelado.

"Participo sempre, eu e a minha família. Sou católico praticante e já é uma tradição, os meus pais traziam-me sempre e eu mantenho isto, mas por causa do tempo hoje só vim com a minha mulher", disse à agência Lusa o macaense Francisco Manhão.

Eulália Conceição já vive em Portugal há 21 anos, mas volta sempre que pode para visitar a filha e matar saudades da sua cidade. Antes de deixar Macau, não perdia uma procissão do Senhor dos Passos e, sempre que as férias no território coincidem com as festividades, desloca-se à Sé.

"Quando vivia em Macau vinha sempre. Sou católica desde solteira até um dia morrer, gosto muito. Há cinco anos também vim, mas não estava a chover", disse, enquanto se tentava abrigar na entrada da igreja.

Como alternativa, realizou-se uma procissão simbólica, em que a figura do Senhor dos Passos, que reflete a imagem de Jesus a caminho do calvário, percorreu as estações representativas da via-sacra no interior da catedral.

A procissão Senhor Bom Jesus dos Passos, cujas origens remontam a 1586, é uma das mais importantes tradições católicas da cidade e um raro evento na China, onde o culto está sujeito a pesadas restrições, uma vez que o Governo Central autoriza apenas a Igreja Católica Patriótica Chinesa, não reconhecida pelo Vaticano.

Talvez por isso a procissão atraia habitualmente crentes vindos do outro lado da fronteira, tanto da China continental como de Hong Kong.

"É uma tradição de muitos anos. Toda a comunidade de Macau participa nesta procissão porque é o início da Quaresma, é o tempo de penitência e também meditação sobre a morte e a paixão de Nosso Senhor. [Vêm] muitos paroquianos católicos de Macau e também dos arredores, de Hong Kong, de Cantão, Shenzhen, Zhuhai", disse à agência Lusa o bispo de Macau, José Lai.

Este ano, a procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos aconteceu em plena celebração do Ano Novo Chinês, numa altura em que a cidade está decorada de luzes e cor. No entanto, para José Lai, o clima de festa não constitui qualquer conflito.

"Para nós, católicos, é uma lembrança da morte e paixão de Nosso Senhor como nosso salvador, portanto não há inconveniência. Esta celebração da salvação da humanidade é uma boa notícia, não é uma coisa triste", disse, sublinhando que se tratam, no fundo, de duas celebrações.

De acordo com o bispo de Macau, a comunidade católica continua a crescer, ainda que represente uma pequena fatia da população: cerca de 30 mil crentes num universo de pouco mais de 600 mil pessoas.

"Todos os anos temos cerca de 200 registos de batismo, é um número a aumentar. Por outro lado, também temos muitas pessoas de Macau que vão para fora. Mas também há alguns que vêm para cá. Por exemplo, os filipinos", observou.

Da comunidade filipina, que em dezembro de 2014 estava estimada em 21.549 trabalhadores não residentes, a Diocese de Macau reconhece cerca de 10 mil como crentes católicos.

 

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