Mossad desmente Netanyahu quanto a bomba atómica

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, foi desmentido pelos seus próprios serviços de informações em 2012, quando declarou que o Irão estava a um ano de distância de se dotar da bomba atómica, segundo documentos secretos hoje divulgados.

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Lusa
23/02/2015 21:59 ‧ 23/02/2015 por Lusa

Mundo

Irão

A documentação foi revelada pelo jornal The Guardian e a cadeia televisiva Al-Jazeera.

As mensagens disponibilizadas pelo diário britânico e a televisão do Qatar proveem de trocas entre os serviços de informações sul-africanos e homólogos estrangeiros, como o Mossad israelita, a CIA norte-americana ou o MI6 britânico, entre 2006 e dezembro de 2014.

Uma destas trocas de correspondência põe em causa a intervenção de Netanyahu na tribuna da Organização das Nações Unidas, em 2012. Na ocasião, o chefe do Governo israelita exibiu um cartaz, com uma bomba em vias de explodir, para ilustrar o que pretendia ser o seu alarme pelo alegado estado avançado do programa nuclear iraniano.

Reivindicando basear-se em informações da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Netanyahu garantira que, a partir do verão de 2013, "no mais tardar", o Irão só precisaria de alguns meses para obter suficiente urânio enriquecido para a sua primeira bomba".

Algumas semanas mais tarde, a Mossad concluiu, em relatório recebido pelos serviços sul-africanos, em 22 de outubro de 2012, que o Irão "não tinha a atividade necessária" para a produzir.

O Irão "não parece estar pronto para enriquecer urânio a um nível suficiente para produzir bombas nucleares", especificou-se no documento.

Para o The Guardian, este episódio ilustra "um fosso" entre a retórica dos homens políticos israelitas e a análise dos serviços de informações deste país.

Um dirigente israelita, questionado pelo The Guardian, considerou que não havia qualquer contradição entre as duas posições. O primeiro-ministro e o Mossad "disseram que o Irão estava a enriquecer urânio com objetivo de produzir a bomba", destacou.

A publicação destas mensagens secretas ocorre quando Netanyahu se preparar para discursar, essencialmente sobre o Irão, em 03 de março, no Congresso dos EUA, intervenção que está a causar polémica tanto nos EUA como em Israel.

O primeiro-ministro, em campanha para as legislativas de 17 de março, receia que os EUA assinem um acordo demasiado favorável ao Irão.

No domingo passado, deplorou que o "terrorismo nuclear" de Teerão "não tenha impedido a comunidade internacional de continuar a negociar um acordo nuclear com o Irão, que lhe vai permitir construir a capacidade industrial de que precisa para desenvolver armas nucleares".

O Guardian revela também que o MI6 e outros "serviços aliados" pressionaram para bloquear a venda de equipamento, entre fim de 2007 e início de 2009, de uma empresa sul-africana a uma iraniana, suspeita de envolvimento no programa de mísseis balísticos iranianos.

A empresa sul-africana, Electric Resistance Furnaces (ERFCO), fechou as portas depois de o contrato, de valor estimado entre 500 mil (441 mil euros) e um milhão de dólares (882 mil euros), ter sido anulado.

Os serviços de informações britânicos estimaram que a venda teria permitido aumentar de maneira significativa a capacidade do Irão de produzir mísseis balísticos, "alguns dos quais poderiam transportar ogivas nucleares".

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