Em entrevista à Lusa no dia em que o Brasil anunciou um crescimento de 0,3% no último trimestre do ano, o que valeu uma subida de 0,1% para o conjunto de 2014, João Pereira Leite diz que os números foram "uma surpresa ligeiramente positiva face ao esperado", mas sublinha que "a subida é ténue e fica muito longe do potencial de crescimento" do país.
Para este gestor de ativos, que acompanha a economia do Brasil há 12 anos e gere uma carteira de investimentos no Brasil de cerca de 30 milhões de euros, o país vai "passar um ano difícil, com crescimento negativo entre meio e um ponto" do PIB e uma expansão menor que 1% no próximo ano.
Sem reformas, explica, o país não vai conseguir expandir a economia, mas "o mercado acredita em mais duas subidas das taxas de juro nas duas próximas reuniões do banco central, o que atiraria a taxa de referência para os 13,5%", dificultando o relançamento da economia.
"O Brasil andou a fazer estímulo fiscal e monetário, e manteve as taxas baixas durante demasiado tempo para controlar a inflação, e há quem diga que o banco central evitou subir as taxas porque isso tem um efeito recessivo, o que não seria bom para a candidatura presidencial, ou seja, não era bom que esta quebra no crescimento económico se visse antes de tempo", diz João Pereira Leite.
Questionado sobre se este é o momento certo para fazer investimentos no país, o gestor de ativos no Banco Carregosa diz que "apesar de não haver uma tempestade perfeita, esta não é a conjuntura ideal para investir".
O ano, diz, "será difícil para os investidores em ações, e para as obrigações há que ser muito seletivo", diz, pormenorizando que ninguém sabe ainda até onde irá a investigação relativa ao processo do Lava Jato, sobre a corrupção entre dirigentes da Petrobras e políticos de alto nível.
A investigação, aliás, já pôs em causa várias das principais figuras políticas do Brasil, mas Pereira Leite acredita que a Presidente brasileira vai conseguir manter-se à tona, apesar dos baixos níveis de popularidade.
"Não é provável uma destituição de Dilma Rousseff, mas quem eu não sei se terá capacidade para aguentar é o ministro das Finanças, que está determinado a reequilibrar as contas públicas, e não sei se terá poder para garantir a execução do que ele acha que é o mais adequado, nomeadamente impostos", diz o diretor de investimentos do banco português, lembrando a subida das tarifas de eletricidade em 30% e o "impacto enorme no bolso das pessoas e o potencial para a revolta social".