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Salários e falta de produtos: as preocupações na era Maduro

Habituados a lidar com a insegurança, os venezuelanos viram aumentar, nos últimos dois anos, as suas preocupações, agora centradas nos salários, cada vez mais insuficientes para fazer frente à inflação galopante num país onde muitos produtos são escassos.

Salários e falta de produtos: as preocupações na era Maduro
Notícias ao Minuto

11:55 - 12/04/15 por Lusa

Mundo Venezuela

Cliente de um supermercado de La Campiña (Caracas), onde diariamente há longas filas para comprar produtos, Naygualida Fernández, 42 anos, trabalha como secretária numa empresa da zona.

Já se habitou "a almoçar todos os dias em apenas alguns minutos" para poder ir à procura de 'harina pan' (farinha de milho), papel higiénico, detergente e leite em pó para as suas duas filhas, entre outras coisas.

"Tenho uma hora para almoço, mas muitas vezes demoro mais que isso na fila para as compras. Felizmente que no trabalho entendem e são tolerantes connosco. Para compensar muitas vezes fico no escritório até mais tarde, mas depois tenho a situação do trânsito em contra e fico sem tempo para passar noutro sítio ou numa farmácia", explicou.

Naygualida queixou-se ainda das dificuldades para conseguir alguns produtos, que cria uma "sensação de desconforto difícil de manejar" e obriga a "esticar" os quase seis mil bolívares que ganha.

Percebe-se a dificuldade da mulher. Existem dois tipos de câmbio, num país que vive as dificuldades da baixa do petróleo, dois anos após a eleição de Nicolas Maduro, a 14 de abril de 2013, após a morte de Hugo Chavez. E onde um café custa 45 bolívares que, conforme as taxas de câmbio, pode significar 6,08 euros ou 0,25 euros.

De facto, na conversão à taxa de câmbio oficial Cadivi, os seis mil bolívares (6,615 bolívares por euro) podem significar 907 euros ou cerca de 30 euros, se for à taxa oficial do Simadi (200 bolívares por euro).

"Temos que estirar o salário, cortar aqui e dispensar acolá, porque quando aparece algum produto importante, mesmo que de momento não necessitemos, temos que comprar porque não sabemos quando haverá de novo", frisou, referindo como exemplo que ainda tem três latas de atum em conserva, porque conseguiu comprar quando não necessitava e agora escasseia.

Entre a comunidade portuguesa, o sentimento é idêntico.

Com novas rotinas diárias, a doméstica Maria Margarida Freitas, 40 anos, dispensa atualmente duas a três horas diárias para ir ao supermercado à procura dos produtos que escasseiam, regressando a casa muitas vezes com coisas diferentes das que pensava comprar.

"De manhã vou para a rua e regresso já na hora de preparar o almoço para os meus dois filhos. Pouco a pouco tenho-me habituado que de há três anos para cá as coisas mudaram a tal ponto que às vezes tenho que cozinhar peixe quando esperava assar carne, mas o mais importante é que ninguém está a passar fome", frisou.

Sobre o futuro, acredita que "melhores tempos virão", que a Venezuela está em dificuldades devido à descida do preço do petróleo e a outros assuntos "dos quais apenas os políticos entendem".

Segundo a imprensa venezuelana, além dos produtos alimentares básicos, de higiene, de alguns medicamentos e anticoncetivos, escasseiam produtos como o papel para imprimir e os guardanapos, lâminas de barbear, fraldas, preservativos, mas também inseticidas, pneus para viaturas, cimento e aço para a construção civil, alguns materiais elétricos e eletrodomésticos.

A escassez de produtos levou à implementação, nos principais supermercados públicos e privados do país, de um sistema de controlo biométrico que limita a quantidade de um bem que o cliente pode comprar e permite a cada cidadão comprar alimentos escassos apenas uma vez à semana.

A medida, que procura garantir o acesso aos produtos e combater o contrabando, é amplamente questionada pelos venezuelanos, com muitos deles a recordar as queixas dos empresários de limitações no acesso a dólares para as importações, num país onde desde 2003 vigora um sistema de controlo cambial que impede a livre obtenção de moeda estrangeira.

Segundo dados do Banco Central da Venezuela a inflação na Venezuela atingiu os 68,5% em 2014 e, de acordo com dados não oficiais, os 30% no primeiro trimestre de 2015. Fontes não oficiais apontam igualmente para uma escassez de aproximadamente 50% em alguns produtos.

Há dois anos no poder na Venezuela, Nicolas Maduro sucedeu na presidência do país a Hugo Chavez, que morreu, de cancro, em 05 de março de 2013.

Maduro venceu as eleições de 14 de abril de 2013 com 50,6%, mais 1,5 pontos percentuais do que o candidato da oposição, Henrique Capriles

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