De acordo com o projeto de declaração da cimeira de Bruxelas, ao qual a organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional (AI) teve acesso, os líderes da UE deverão rejeitar o alargamento das operações de busca e socorro no Mediterrâneo e duplicar a Operação Triton, de vigilância das fronteiras europeias.
Se a UE aprovar esta proposta, esta operação será inferior, em termos financeiros, humanos e operacionais, relativamente à anterior operação italiana 'Mare Nostrum' (2013/2014).
A Operação Triton vigia apenas uma área de 30 milhas ao largo das costas de Itália e de Malta, "muito afastada do local onde ocorrem a maior parte das mortes", afirma a AI num comunicado à imprensa.
"O documento [da UE] fica lamentavelmente aquém daquilo que é necessário. Os líderes europeus, reunidos em Bruxelas, têm uma oportunidade e a responsabilidade de corrigirem os seus fracassos colossais, que continuam a originar mortes (...) Duplicar o orçamento da 'Operação Triton' não pode corrigir isto. O que é preciso é uma mudança de objetivos, da área operacional e mais navios e aviões", afirma Gauri van Gulik, diretor-adjunto da AI para a Europa e Ásia Central.
"Escolher a vigilância das fronteiras da Europa e ignorar a necessidade urgente de salvar aqueles que se afogam é um insulto para os milhares que já morreram e uma afronta insensível àqueles que não tem outra opção senão empreender esta perigosa viagem", sublinha.
No relatório que divulgou na quarta-feira, a AI refere que nos primeiros três meses e meio de 2015 cerca de 900 pessoas morreram ou desapareceram no mar, comparando com 17 em igual período do ano passado, citando dados do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).
Isto significa que uma em cada 23 pessoas morre afogada ao tentar atravessar o Mediterrâneo, registando-se 53 vezes mais mortes do que em 2014, apesar de o número dos que fazem a travessia continue a ser mais ou menos o mesmo (20.899 até meados de abril do ano passado e 21.385 no período homólogo deste ano), acrescentou a AI.