Os líderes da União Europeia decidiram na quinta-feira, numa reunião extraordinária, aumentar a cooperação contra as redes de tráfico de seres humanos através da Europol, depois de terem morrido nos últimos dias mais de mil migrantes que tentavam chegar à Europa de forma ilegal.
"A Europol (Serviço Europeu de Polícia) tem um papel importante aqui, mais importante do que se possa supor, porque estas redes de traficantes são redes de criminalidade organizada transnacional", disse à agência Lusa o especialista em questões de migrações, que estuda a questão há mais de 20 anos.
"Não se pense que estas redes estão só na Líbia, muitas das conexões dessas redes estão nos países da União Europeia e, até diria mesmo mais, alguns dos mandantes e daqueles que mais lucram com o tráfico de seres humanos são europeus", adiantou António Vitorino.
O antigo comissário europeu para os Assuntos Internos e Justiça apontou a "necessidade de haver ação policial, de recolha de informações, de identificação não apenas dos operacionais das redes mas também de quem é que manda nessas redes", considerando que "a Europol, em colaboração com as polícias dos Estados membros, tem um papel decisivo nessa matéria".
Com o objetivo de combater o tráfico de migrantes, os líderes da UE pretendem também destruir os barcos que os contrabandistas utilizam para os transportar, medida em relação à qual António Vitorino disse perceber a intenção, mas que considerou "um exercício muito difícil".
A Alta Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Federica Mogherini "deve organizar uma operação militar contra as redes de imigração clandestina e de tráfico de seres humanos", lembrou o advogado.
"Sejamos pragmáticos, uma missão dessas leva meses a ser organizada e a ser posta no terreno, (...) essa missão não estará em condições de responder a esta pressão de curto prazo que vai aumentar", adiantou.
António Vitorino também considerou "não ser um exercício fácil" a identificação dos barcos que se dedicam ao tráfico, pois "exige grande presença no terreno, a capacidade de interceção desses barcos, (...) a (sua) apreensão (...) e isso há regras de direito internacional que têm que ser respeitadas".
"Percebo a intenção, duvido da exequibilidade e dos resultados que isso possa ter no curto prazo", disse ainda.
Segundo António Vitorino, "calcula-se que o tráfico de seres humanos renda hoje em termos de lucros para os criminosos qualquer coisa que anda próxima dos lucros do tráfico de droga à escala mundial".
A diferença "é que no tráfico de droga os passadores é que correm o risco, no caso do tráfico de seres humanos o grande risco é conhecido pelas pessoas que pagam para serem traficadas, é corrido pelas vítimas e isto é a forma mais ignóbil de violação da dignidade humana", disse.