Políticos só procuram indígenas "quando precisam dos votos"

O presidente do Comitê Intertribal do Brasil, Marcos Terena, disse à Lusa em Nova Iorque que "os políticos só procuram os indígenas quando precisam dos votos para se elegerem".

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Lusa
30/04/2015 12:46 ‧ 30/04/2015 por Lusa

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O líder indígena participa esta semana na 14ª Sessão do Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, que termina na sexta-feira e tem como foco os direitos económicos, sociais e culturais destes grupos.

Numa entrevista à Lusa, Marcos Terena explicou que trouxe até à organização internacional as maiores preocupações destes povos no Brasil.

"Os grandes desafios são a insegurança com a demarcação das nossas terras, principalmente pelo grande número de ruralistas que foram eleitos como deputados e senadores no Congresso Nacional", disse o representante.

Marcos Terena disse que "os últimos protestos foram feitos de grandes encontros e marchas indígenas", mas que esse modelo de luta "tem sido improdutivo."

"E por isso não conseguimos, por exemplo, indicar um índio para presidir à FUNAI, a agência de governo responsável pela proteção indígena oficial", defendeu.

O líder lamentou ainda a incapacidade de eleger um representante indígena para o Congresso Nacional.

"Infelizmente, nunca tivemos um irmão indígena eleito como parlamentar. Por isso estamos muito preocupados com a proposta de tirar o poder do Governo federal em demarcar as nossas terras e transferir isso para os congressistas, seria um grave retrocesso", explicou.

No encontro de duas semanas, Terena esteve acompanhado por mais de mil representantes de vários grupos indígenas de todo o mundo.

Na primeira semana, foram discutidos temas ligados à Conferência Mundial sobre os Povos Indígenas, realizada em setembro do ano passado.

Entre os assuntos principais, estavam questões relacionadas com a juventude, como automutilação e suicídio, que Terena garantiu serem também comuns aos indígenas brasileiros.

É por isso, aliás, que o país organiza em setembro os primeiros Jogos Mundiais Indígenas, em Palmas, Tocantins.

"Já temos 40 países querendo participar. São jogos voltados para a afirmação da dignidade, dos valores físicos entre homem e natureza e, principalmente, para buscar e salvar jovens indígenas à beira da droga, alcoolismo e suicídios", disse.

Segundo a ONU, a população indígena mundial deve chegar a 370 milhões, mais de 70 milhões são jovens entre 15 e 24 anos.

A organização diz que os povos indígenas representam 15% da população mais pobre do mundo e aproximadamente um terço dos 900 milhões de pessoas que vivem em áreas rurais e são classificadas como extremamente pobres.

"Temos tido muitas conquistas dentro da ONU, como, por exemplo, a criação de um Fórum Permanente sobre Questões Indígenas em que os indígenas têm assento em igualdade numérica, e a Declaração sobre os Direitos Indígenas, em que consta, por exemplo, o direito a livre determinação", explicou Terena.

Ainda na agenda do encontro, estão o protocolo opcional da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas e a agenda de desenvolvimento pós-2015, com foco na alimentação, fome e doenças.

Marcos Terena distinguiu um movimento de fundo na forma como lutam estes povos e garantiu que o Brasil acompanha essas mudanças.

"Todos estão querendo mudanças nas formas de participação e avanços nas conduções dos processos políticos. O Brasil tem acompanhado e tem sido protagonista em algumas ações", disse Terena.

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