Lusodescendentes não são incentivados a aprenderem português
A falta de incentivo dos progenitores aos filhos na aprendizagem da língua portuguesa no Canadá é uma das principais dificuldades que os professores sentem no ensino do português naquele país, disse hoje uma docente à agência Lusa.
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Mundo Canadá
"A assiduidade dos alunos é umas das dificuldades. Outra, é o interesse dos pais, porque não põem a escola portuguesa como prioridade. Assim torna-se difícil a assiduidade", afirmou Fátima Luz, uma das promotoras do 23.º Encontro de Professores de Português no Canadá e nos Estados Unidos, evento que decorreu este fim de semana em Cambridge, no sudoeste do Canadá.
A professora na escola de português em Cambridge, da Direção Escolar Católica de Waterloo, sublinhou ainda que muitos dos lusodescendentes de segunda ou terceira geração "não falam português em casa".
"Os avós falam português, mas eles já não o fazem. Por isso, vão para a escola portuguesa e não percebem muito da nossa língua", acrescentou Fátima Luz.
A docente garantiu que os lusodescendentes "têm muito orgulho de serem portugueses", algumas das vezes "manifestam mais interesse do que os próprios pais".
A professora também reconheceu a necessidade de algum material para que possam melhorar o ensino do português, como é o caso do material didático vocacionado para um nível de português mais baixo.
"Temos material para alunos que têm o português como primeira língua, o que não é o caso destes nossos alunos. Há três anos que temos tido o apoio do Instituto Camões, que nos facultou novos livros, mas necessitamos de mais apoios", frisou.
Os manuais que foram elaborados num período anterior ao novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que viu a fase de transição findar a 13 de maio último, necessitam agora de ser substituídos, alertou a professora Maria do Carmo Couto, da escola de Santa Cruz de Montreal.
"Agora, com o novo Acordo Ortográfico, certamente que precisamos de outros manuais. Porque não vou dar uma aula aplicando o Acordo Ortográfico se eles têm os manuais elaborados num período anterior ao Acordo Ortográfico", disse.
Outra docente de Montreal, Liliana Marcelino, lamentou o facto de o número de alunos no ensino do português "ter vindo a diminuir", situação que se verifica não só em Montreal mas "um pouco por todo o Canadá".
"De ano para o ano o número de alunos tem vindo a diminuir. Acho que não é só em Montreal, mas um pouco por toda a parte. A imigração não é o que era", justificou.
Liliana Marcelino também salientou a importância de a sua escola, a comunitária de Santa Cruz, estar dotada de quadros interativos para que os alunos possam "interagir mais".
Os alunos de português no Canadá vão ser contemplados pela primeira vez este ano com o prémio de trabalhos escolares 'APPEUC', anunciou durante o evento Paulo Teves, diretor regional das Comunidades.
"Pela primeira vez o Canadá será abrangido pelo Prémio APPEUC. Os alunos terão como prémio visitar os Açores, durante uma semana, numa viagem de estudo, para conhecerem 'in loco' a terra dos seus antepassados", disse Paulo Teves.
O prémio é organizado pelo Governo dos Açores, numa parceria com a SATA e com a Associação de Professores de Português dos Estados Unidos e do Canadá.
Frank Monteiro, vereador lusodescendente da Câmara Municipal de Cambridge, foi o anfitrião, uma cidade com 140 mil habitantes.
O autarca salientou a importância daquela localidade em receber o encontro de professores de português até porque "cerca de um terço da população de Cambridge é de origem portuguesa".
Oficialmente, há 429 mil portugueses e lusodescendentes no Canadá, segundo o recenseamento de 2011, mas calcula-se que existem cerca de 550 mil, estando a grande maioria localizada no Ontário. Cambridge tem cerca de 40 mil.
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