Presidente guineense critica "passividade" face a "mau rumo das coisas"

Presidente guineense José Mário Vaz insurgiu-se contra o que diz ser "passividade" dos anciãos perante "o mau rumo das coisas" no país, com o qual afirma não pactuar.

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Lusa
23/07/2015 21:30 ‧ 23/07/2015 por Lusa

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José Mário Vaz

"Não contem comigo para isso, não fui eleito para isso. Vim aqui para ajudar a mudar o país, não para ficar calado", observou José Mário Vaz ao dirigir-se aos anciãos, régulos e chefes religiosos numa reunião realizada na quarta-feira no palácio presidencial.

Nos últimos tempos, várias vozes têm-se insurgido contra os desentendimentos entre o Presidente, o primeiro-ministro e o presidente do Parlamento, sendo que os próprios não negam a existência de crispações.

Falando em crioulo, José Mário Vaz pediu aos anciãos que tenham a coragem de "falar verdade" perante as situações que têm ocorrido no país, para que possam ser corrigidas.

O chefe de Estado afirmou que as palavras dos anciãos "são enganadoras" quando aplaudem o trabalho realizado pelo Presidente da República, pedindo que sejam críticos também em relação a ele próprio.

"Vejo que não são capazes de por o dedo na ferida. Chegam aqui com conversa do tipo: o Presidente é que tem razão", observou José Mário Vaz.

"Não estou nada contente com o meu trabalho como Presidente. Estou aqui há um ano, mas penso que podia ter feito mais", acrescentou, apontando o dedo acusador aos anciãos que, diz, pretendem "perpetuar a canseira" no país com a sua atitude.

"Vocês os anciãos deste país querem deixar esta terra na canseira em que se encontra para que esta situação seja herdada pelos vossos filhos e netos", referiu.

Negado Fernando, Juiz do Povo (uma espécie de juiz popular) reconheceu que o "país não anda bem", mas também acha que é por esse motivo que José Mário Vaz não tem tido tempo para realizar visitas ao interior.

"Desde que elegemos o Presidente, não o vimos nas regiões, porque não tem tido tempo com problemas da governação. Sabemos que o Presidente não tem tempo", notou Negado Fernando.

José Mário Vaz prometeu realizar ainda no decurso deste ano duas visitas às regiões.

As relações entre o chefe de Estado e o líder do Governo estão longe de ser as melhores.

A 03 de julho, Vaz teve que fazer um discurso à nação na Assembleia Nacional Popular (ANP) para afastar os rumores de que estaria a planear demitir o Executivo liderado por Domingos Simões Pereira.

No entanto, no mesmo discurso, disse que não abdica do papel de árbitro e fez alusão a uma proposta de remodelação governamental que já terá sido tema de conversa com o primeiro-ministro.

Já antes, num encontro com veteranos do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), partido que suporta o Governo e elegeu Vaz, o chefe de Estado disse "estar na posse de dossiês que põem em causa a autoridade moral de alguns membros do Governo", sendo esse "o principal motivo de dificuldades".

Domingos Simões Pereira ainda não se pronunciou sobre uma eventual remodelação governamental.

Os desentendimentos estão a deixar inquietos os diplomatas em Bissau e a generalidade da comunidade internacional que voltou a financiar o país depois do regresso à norma constitucional após as eleições de 2014.

A 25 de março, as novas autoridades realizaram um encontro de doadores em Bruxelas que permitiu mobilizar mais de mil milhões de euros de intenções de apoio internacional.

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