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Imigrantes resgatados do Mediterrâneo relatam horrores

Dias depois de um naufrágio ao largo da costa da Líbia que poderá ter causado mais de 200 mortos, alguns do imigrantes resgatados relataram às autoridades italianas horrores vividos durante a travessia e o desastre.

Imigrantes resgatados do Mediterrâneo relatam horrores
Notícias ao Minuto

16:43 - 07/08/15 por Lusa

Mundo Líbia

"Testas marcadas com facas para os africanos que não obedeciam a ordens" e "pontapés e murros na cabeça" estão entre os relatos que deixam poucas dúvidas quanto à culpa dos traficantes pela morte de centenas que se terão afundado com a embarcação, segundo o diário italiano La Repubblica.

Quando o barco começou a ter dificuldades, os traficantes fecharam os imigrantes de etnia africana num compartimento do barco e ordenaram aos de outras etnias que se sentassem em cima das portas, para os impedir de sair.

Quando a embarcação se afundou, "os cerca de 200 imigrantes africanos trancados tiveram um fim horrível", relata o jornal.

Graças aos testemunhos, as autoridades italianas prenderam cinco suspeitos, dois argelinos e três líbios.

"Muitas pessoas morreram", afirmou à agência Lusa Regina Catrambone, que juntamente com o marido gere a organização não-governamental Migrant Offshore Aid Station, que opera um navio que participa na ajuda às embarcações com migrantes.

"Estávamos a 50 milhas náuticas (cerca de 93 quilómetros) da zona, por isso não fomos o navio identificado para realizar o salvamento", em que participaram "três navios governamentais, dois italianos e um irlandês", e "uma embarcação dos Médicos sem Fronteiras".

Regina Catrambone acrescentou que a sua embarcação chegou "muito mais tarde", tendo imediatamente lançado 'drones' (aviões não tripulados) para tentar localizar as "muitas pessoas desaparecidas".

A frequência destes desastres não está a aumentar "porque estas pessoas querem ir de férias", afirma, mas porque "quantos mais desastres acontecem" nos seus países de origem, "mais as pessoas se dirigem à costa para tentarem fugir", o que direciona "toda esta pressão, esta agressividade" para a Europa.

A ONG coordena as suas operações com o Centro Marítimo de Coordenação de Roma, que orienta todas as operações de resgate.

Para Regina Catrambone, a União Europeia "deveria ter planos um pouco mais reais" para uma solução definitiva para o problema, sendo que uma possível intervenção contra as bases dos traficantes seria apenas "paliativa".

"A solução para o problema não é criar muros, não é destruir os barcos, (...) é ir ver o que acontece nos países de origem daquelas pessoas, e tentar criar paz", explica.

A solução passa também pela mudança de mentalidades, defende, tanto pelos europeus como pelos imigrantes.

"Algumas destas pessoas não tiveram a sorte de poder estudar e de poder entender tudo aquilo que acontece, algumas pessoas são analfabetas, algumas precisam de estudar", e por isso, afirma, "é preciso criar um sistema para eles no qual estas pessoas não se percam, mas que nós os possamos ajudar, para que depois eles nos possam ajudar a nós".

Mas "estas pessoas que nós socorremos, também elas quando chegam a Itália devem perceber que a Itália é o país que os acolhe, e que devem respeitar, como a uma mãe, o país".

Os centros de detenção onde os imigrantes são colocados não são contribuem para resolver o problema, diz, porque quando "estas pessoas vulneráveis como nós chegam, temos verdadeiramente que entender se as queremos acolher, e acolher por bem, ou se queremos fazer de conta que as acolhemos" e pô-los nos centros, à espera de serem repatriados.

No primeiro ano da MOAS, o projeto foi financiado pessoalmente por Regina Catrambone e pelo seu marido, Christopher, mas agora a organização depende de doações para continuar.

"Nós vivemos de doações, não é verdade que sejamos milionários", afirma Regina.

"Nós tínhamos fundos, mas gastámo-los todos para esta missão", e agora apenas as doações, possíveis através do site da organização, a mantêm operacional.

Segundo informações divulgadas na quinta-feira pela Organização das Nações Unidas, cerca de 224 mil migrantes e refugiados atravessaram o Mediterrâneo em direção à Europa nos primeiros sete meses deste ano.

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