O chamado Dialeto Português do Uruguai (DPU) é falado por cerca de 15% da população uruguaia, segundo Juan Pedro Mir, diretor de Educação do Ministério da Educação e Cultura do país - o Uruguai possui cerca de 3,5 milhões de habitantes.
Estudiosa do tema, Ana Maria Carvalho, diretora do Programa de Língua Portuguesa da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, realçou que o português uruguaio é um idioma oral, com origem no português rural, e concordâncias verbais e nominais variáveis.
"O português é mais língua de casa, do bairro, da rua. O espanhol é a língua do banco, das instituições", afirmou a professora à Lusa.
Algumas palavras, como as utilizadas na escola, incluindo "maestra" (professora), e os dias da semana, são ditas em espanhol, por exemplo.
A pronúncia, entretanto, depende do estrato social, de acordo com a pesquisadora. A classe média, afirmou, usa menos empréstimos de palavras do espanhol e um português mais parecido ao brasileiro. Já nas regiões mais humildes e rurais, as concordâncias variam (com 'semo' no lugar de 'somos', e 'muié' como 'mulher').
Ana Maria Carvalho, que morou seis meses na fronteira entre Uruguai e Brasil para estudar o tema, explicou que o norte do território uruguaio atual ficou despovoado na colonização espanhola. Com isso, brasileiros e portugueses ocuparam a região.
No final do século XIX, com a reconquista da região, foram implantadas medidas para aplicar a língua espanhola. "Houve a chegada de imigrantes da Andaluzia [Espanha] e a obrigatoriedade do espanhol nas escolas públicas", afirmou.
Juan Pedro Mir, diretor de Educação do Uruguai, afirmou que o português uruguaio era visto com preconceito, vinculado aos setores mais pobres. Entretanto, desde 2008, o português é reconhecido como uma língua materna no Uruguai.
"Reconhecer a variedade linguística é parte do reconhecimento dos direitos civis", afirmou. Hoje há escolas bilingues no norte do país, mas o português ensinado é o padrão, não o regional que, como idioma oral, não possui uma grafia oficial.
O português uruguaio, segundo Ana Maria Carvalho, não pode ser confundido com o conhecido 'portunhol' da extensa fronteira entre Brasil e outros países de língua oficial espanhola. Nesses locais, há poucos indivíduos bilingues, a maioria fala apenas o idioma oficial de seu país, mas muitos entendem tanto o português como o espanhol por razões práticas de convivência.
Já no norte do Uruguai, incluindo as cidades de Rivera e Artigas, o bilinguismo é "social", segundo a pesquisadora, com o castelhano ensinado nas escolas e um português de herança com estrutura gramatical do idioma de Camões, compreensível por outros falantes da língua no Brasil ou em Portugal, e incompreensível para um falante exclusivo de espanhol.