Cem euros alimentam uma criança refugiada em Beirute durante um ano

Cem euros doados por um português para apoiar refugiados no Líbano alimentam uma criança síria em Beirute durante um ano, com o apoio de Portugal a chegar para já a 1.720 meninos e meninas.

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Lusa
17/11/2015 09:30 ‧ 17/11/2015 por Lusa

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"Uma refeição custa cerca de 29 cêntimos, portanto, com 102 euros conseguimos proporcionar uma refeição durante um ano letivo a uma criança", números explicados por Ana Franco Sousa, do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) de Portugal, que admitiu não ter ainda apoios para todo o ano, mas garantiu que o que existe irá chegar "ao máximo de tempo possível".

Ana Franco Sousa, em representação do JRS Portugal, em Beirute a conhecer o apoio que está a ser dado aos refugiados com a ajuda dos portugueses, explicou à agência Lusa que esse apoio está concentrado no Vale de Bekaa, em cinco escolas.

Tudo graças ao apoio da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) e, em última análise, dos cidadãos portugueses, através da organização de eventos e transferência de dinheiro.

"Acho que os portugueses têm sido muito generosos", frisou Ana Franco Sousa.

A PAR e o JRS, explicou a mesma responsável, tem preferido os apoios em dinheiro, porque se for em géneros, além de implicar uma logística dispendiosa, também vai desestabilizar o comércio e a agricultura locais.

Esta semana no Líbano, onde os refugiados já são 30 por cento da população, Ana admitiu que a JRS Portugal só ficou mais sensibilizada para a questão no país quando começou a crise de refugiados na Europa.

Hoje, com crianças que por vezes só têm uma refeição por dia, a oferecida pelos portugueses, Ana falou também da violência sexual sobre as mulheres, dos homens e crianças recrutados para grupos armados, das pessoas que perdem casas e vão perdendo a família.

E entende os hoje 1,5 milhões de sírios a viver no Líbano.

"Aqui, a realidade é um bocadinho melhor, mas ainda assim há muita tensão entre o povo libanês e sírio, pela história de conflitos", e, "com estes atos terroristas, as pessoas também ficam com medo de receber os refugiados", destacou, referindo-se aos atentados que na semana passada vitimaram em Beirute quase quatro dezenas de pessoas.

A situação não tem tendência para melhorar, no entender de Ana Franco Sousa, que explica que quanto mais refugiados chegam, maior é a tensão, os produtos ficam mais caros, o desemprego aumentou bastante e os libaneses queixam-se de que os sírios lhes estão a tirar o trabalho.

Os números oficiais dão-lhe razão: a taxa de pobreza cresceu 65 por cento desde 2011, a força laboral cresceu desde a mesma altura 50 por cento.

Com praticamente um sírio por cada dois libaneses, com todos os dramas que se vivem diariamente naquele pequeno país, o trabalho do JRS (organização internacional da Igreja Católica) é "uma gota no oceano". No Líbano apoia especialmente a área da educação, para dar uma oportunidade às crianças que perderam tudo de "terem um futuro".

É por isso que financia projetos de educação não formal (o Governo libanês pretende integrar as crianças refugiadas no sistema de educação nacional e o JRS prepara-as para isso), mas também escolas de educação formal, e prepara ainda atividades para famílias, às quais dá apoio psicossocial.

E depois, explicou ainda Ana Franco Sousa, porque 70 por cento dos refugiados vivem "a um nível de pobreza muito grande", porque o Programa Alimentar Mundial cortou os apoios para metade, há a ajuda alimentar, uma forma também para combater o abandono escolar e evitar a entrada precoce no mundo do trabalho.

Uma gota, admitiu Ana. Mas depende da perspetiva. Se conseguir arranjar 180 mil euros até ao final de 2015, 1.720 crianças terão mais um ano de alimentação garantido.

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