O Campo de Concentração do Tarrafal, cuja transformação em museu foi hoje inaugurada pelos primeiros-ministros de Portugal, António Costa, e de Cabo Verde, José Maria Neves, é já Património Cultural Nacional, mas Cabo Verde ambiciona a classificação do também conhecido "Campo da Morte Lenta" como Património da Humanidade.
Durante a cerimónia de inauguração, o primeiro-ministro de Cabo Verde defendeu a necessidade de dialogar e trabalhar com Portugal e todos os outros países de língua portuguesa "para transformar este património não só em património do mundo lusófono, mas em património de toda a humanidade" para "preservar a memória de todas e de todos os que lutaram pela liberdade" e "para provar ao mundo que jamais haverá outros campos de concentração como este".
Para José Maria Neves, o campo de concentração que foi originalmente concebido para albergar presos antifascistas portugueses e, posteriormente, presos anticolonialistas da África portuguesa, simboliza a "luta comum do povo português e das ex-colónias portuguesas pela liberdade".
"Aqui é um ponto de encontro de toda a pátria da língua portuguesa na sua luta pela liberdade e pela democracia e pela dignidade", disse José Maria Neves.
Para o primeiro-ministro de Cabo Verde, ter na inauguração do museu a presença do chefe do Governo de Portugal, antiga potência colonizadora, é também "símbolo de um novo momento" que se vive no mundo de língua portuguesa.
"É paradigmático para o mundo podermos mostrar que é possível termos mais tolerância, mais diálogo entre os povos, que é possível abrirmos novos caminhos para a liberdade e para o desenvolvimento", disse.
"Esta presença é muito forte, simbólica e extremamente importante para o furo das novas gerações. Estaremos sempre nesta luta comum, todas as ex-colónias portuguesas e Portugal para trabalhar para que haja sempre mais liberdade e mais dignidade", acrescentou.
Os dois chefes de Governo fizeram uma visita guiada ao novo itinerário museológico do Campo de Concentração do Tarrafal, que segundo o curador José Landim, está agora mais valorizado com o envolvimento dos cerca de 30 agregados que vivem naquele espaço.
"Especialistas de várias áreas analisaram e concluíram que o campo é mais do que a prisão e a luta dos presos. É preciso valorizar tudo o que faz parte do campo e foi o que fizemos", disse José Ladim à agência Lusa à margem da inauguração.
Para o responsável, não é possível fazer a gestão e a valorização do campo sem a inclusão da comunidade local, e não é possível fazer essa inclusão sem que a comunidade conheça a história do monumento.
O projeto de transformação do campo em museu, com definição de um percurso com informações sobre as várias estruturas que faziam parte do também designado Campo da Morte Lenta, contou com apoio português.
"O projeto não termina aqui e há ainda um longo caminho a percorrer", segundo José Landim, para quem o objetivo maior é inscrever sítio na lista de património mundial da UNESCO.
"Já fechámos o processo de inscrição do campo na lista indicativa da UNESCO e agora vai-se fazer a avaliação e vamos continuar a trabalhar. É o que todos os povos de Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e Portugal querem", sublinhou.
O campo do Tarrafal, inaugurado em outubro de 1936, foi inspirado nos campos de concentração nazis, e nele morreram 32 presos políticos portugueses e dezenas de outros oriundos das então colónias de Portugal.