Na terceira e última volta da votação, onde apenas era exigida uma maioria simples, a candidatura de Thaçi foi apoiada por 71 deputados, num hemiciclo com 120 lugares. A comissão eleitoral referiu que 81 eleitos participaram na votação, boicotada pela principal força da oposição.
"Concluímos que Hashim Thaçi foi eleito Presidente da República do Kosovo para um mandato de cinco anos", referiu a comissão.
Após a confirmação da eleição, Thaçi agradeceu "a todos os representantes da esfera política", comprometeu-se a "construir um novo Kosovo, um Kosovo europeu" e "aprofundar o relacionamento" com os Estados Unidos, um dos grandes impulsionadores da independência do Kosovo.
Ex-província da Sérvia com maioria albanesa, palco de um conflito em 1998-1999 que implicou uma intervenção militar internacional contra Belgrado, acusado de reprimir a população de origem albanesa, e posterior protetorado internacional, o Kosovo autoproclamou a independência em 17 de fevereiro de 2008.
No primeiro escrutínio no parlamento, os deputados da oposição voltaram a lançar gás lacrimogéneo no interior do edifício para impedir a eleição de Thaçi, enquanto manifestantes e a polícia se confrontavam em redor do edifício.
Em paralelo, e no decurso da votação, a polícia utilizou gás lacrimogéneo para dispersar um grupo de manifestantes encapuçados que lançou 'cocktails molotov' num protesto frente à sede do parlamento e do Governo, em pleno centro de Pristina.
Para além de contestarem a eleição de Thaçi, "a pessoa mais contestada no Kosovo" segundo a oposição, os manifestantes garantem que vão prosseguir os protestos até à convocação de eleições legislativas antecipadas.
A situação de tensão agravou-se no local -- onde centenas de militantes da oposição instalaram um acampamento desde quarta-feira --, quando pelo menos 11 deputados da oposição foram forçados a abandonar o parlamento, após terem uma vez mais lançado gás lacrimogéneo no hemiciclo em plena sessão.
Um deputado da oposição foi detido, enquanto outros recusaram participar na votação. Este método original de boicote tem sido utilizado desde outubro para exigir a demissão do Governo de coligação -- que integra o histórico partido independentista LDK e o PDK de Thaçi, dominado por antigos combatentes do Exército de Libertação do Kosovo (UÇK) --, e eleições antecipadas.
Na linha da frente dos protestos o partido Vetevendosje (Autodeterminação, terceira força política no parlamento) e o seu líder e deputado Albin Kurti, que para além de pretender derrubar o Executivo se propõe impedir os acordos de normalização de relações com as vizinhas Sérvia e Montenegro.
Neste âmbito, a Sérvia continua a ser apontada como o adversário de eleição, após os acordos entre Pristina e Belgrado, mediados pela União Europeia (UE), preverem a formação de uma associação de municípios no norte do território kosovoar, onde os sérvios são maioritários, e com alguma autonomia.
"Opomo-nos à 'bosnificação' do Kosovo. Com este Governo há o grande risco de termos outra Bósnia no Kosovo. De ter um Estado dentro do Estado e que vai deixar-nos diminuídos", disse recentemente Kurti em declarações à agência noticiosa Efe.
O dirigente nacionalista assegurou ainda que a associação de municípios suporia a criação de uma "pequena Sérvia" no interior do Kosovo, uma espécie de "Republika Srpska", numa referência à entidade sérvia da Bósnia-Herzegovina que garante um elevado grau de autonomia.
Os protestos em Pristina e a atual crise política coincidem com uma crescente degradação da situação económica, perspetivando segundo diversos analistas uma possível "bomba social".
O desemprego atinge vastas camadas da população (mais de 50% segundo algumas projeções, num país muito jovem) e não existem perspetivas económicas. O tecido industrial foi sistematicamente destruído e para os mais jovens a imigração constitui a única perspetiva. O Kosovo parece aguardar por uma inevitável explosão.