O número recorde de banqueiros sentados no banco dos réus em Espanha foi noticiado pelo jornal El País, na sua edição de domingo, num artigo que identifica as nove instituições que receberam dinheiros públicos e que estão na mira das autoridades: Bankia, Caja Madrid, Banca Cívica, Caja de Ahorros del Mediterrâneo (CAM), Banco de Valencia, Caixa Penedés, Caja Castilla La Mancha (CCM) e Cajasur, a que se soma o Eurobank (que faliu em 2004).
No total, segundo o jornal, há 90 banqueiros que estão a ser investigados pela justiça espanhola, 74 dos quais estão a ser julgados na Audiência Nacional e os restantes 16 (da Banca Cívica) cujo processo ainda se encontra no tribunal de Pamplona.
"A estes 90 devem ser acrescentados mais dois [banqueiros]: Miguel Blesa e Gerardo Díaz Ferrán, cuja gestão está a ser investigada por suspeitas de possíveis irregularidades no crédito de 26,7 milhões de euros concedido pela Caja Madrid ao antigo presidente da Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (CEOE), a principal entidade patronal espanhola, Díaz Ferrán", relatou o El País.
E, caso a denúncia apresentada pela associação de clientes do sector financeiro espanhol (Adicae) contra o Catalunya Banc tiver seguimento em termos judiciais, esta entidade e os seus administradores também vão engrossar a lista.
"Esta judicialização de boa parte da actividade financeira não é uma casualidade", realçou o jornal, explicando que as entidades sob investigação receberam 37,7 mil milhões de euros de dinheiro público (na maioria dos casos) e também de ajudas do próprio sistema bancário através do Fundo de Garantia de Depósitos.
Esta verba supera todos os cortes que foram feitos pelo Governo espanhol na educação e na saúde, por causa da crise.
Até ao momento, os contribuintes espanhóis "perderam para sempre" 6 mil milhões de euros usados para recapitalizar o Banco de Valencia (vendido por um euro à La Caixa) e 400 milhões de euros destinados a tapar o crédito mal parado da Cajasur.
"A situação provocou uma indignação social sem precedentes contra o sector financeiro", destacou o El País, que impulsionou a investigação judicial para a averiguação das responsabilidades dos gestores dos grupos bancários resgatados pelo Executivo de Madrid.
A sociedade, e parte dos partidos políticos (sobretudo, a Izquierda Unida e a União, Progresso e Democracia), exigem que se investigue a fundo as perdas destas entidades.
Segundo o jornal espanhol, em causa estão três tipos diferentes de delitos: as alegadas operações fraudulentas que resultaram em prejuízos para as próprias entidades e beneficiaram alguns gestores (casos da CAM, do Banco de Valencia e da CCM), as elevadas indemnizações e pré-reformas pagas a alguns administradores que deixaram as instituições (Novagalicia, Caixa Penedés, Banco de Valencia e CAM), e as operações de dispersão do capital em bolsa do Bankia e da Banca Cívica.
O Governo espanhol contratou especialistas para detectar possíveis fraudes e irregularidades, que trabalham em conjunto com o Banco de Espanha, o Fundo de Reestruturação Bancária Ordenada (FROB, na sigla em castelhano) e o Bankia.
Só a equipa da consultora KPMG dedicada a esta investigação conta com mais de 100 pessoas, informou o El País, que diz que a PricewaterhouseCoopers (PwC) também está envolvida nos trabalhos.