Junto à casa de Christopher Steele, numa aldeia nos arredores de Londres, um vizinho do antigo espião, Mike Hopper, disse à agência France Presse (AFP) que Steele tinha saído na passada quarta-feira e lhe pediu para alimentar os três gatos da família.
Não havia também qualquer carro estacionado no jardim da casa de Steele, identificado pelo Daily Telegraph e pelo Wall Street Journal na quarta-feira como sendo um antigo quadro do MI6, o serviço de informações britânico, e diretor desde 2009 da Orbis, uma empresa sedeada em Londres, que se descreve como "líder em consultadoria de inteligência corporativa".
"Não vi ninguém da família desde ontem (quarta-feira)", indicou Hopper à AFP. "Não é o tipo de coisa que se espera saber, notícias internacionais com esta importância relacionadas com um lugar como este", acrescentou.
De acordo com uma fonte próxima de Steele, citada pelo diário britânico The Telegraph, o antigo espião ficou "horrorizado" quando a sua nacionalidade foi revelada, um pouco antes da imprensa norte-americana ter divulgado o seu nome.
A mesma fonte disse que Steele "muito preocupado com a segurança da sua família e de si próprio depois da publicação do dossier que dá conta de que a Rússia tem nas suas mãos informação comprometedora para Donald Trump, incluindo gravações áudio e vídeos com cenas de sexo.
Donald Trump não só negou as alegações como condenou as "notícias falsas".
A empresa liderada por Steele terá, de acordo com o The Telegraph, sido contratada primeiro pelos rivais de Trump no Partido Republicano e depois pelos democratas para compilar informação que pudesse ser usada em campanha contra o multimilionário norte-americano.
O segundo diretor da Orbis, Christopher Burrows, disse ao diário britânico que não está em condições de "confirmar ou negar esta informação".
Questionado hoje sobre estas notícias, o porta-voz da primeira-ministra britânica, Theresa May, sublinhou que "todas as notícias" sobre assunto até agora falaram de "um antigo empregado" do Governo.
Já sobre se o Governo britânico está a ajudar Steele a manter-se longe dos holofotes, a mesma fonte foi ainda mais enigmática: "Penso que há um procedimento padrão que é seguido quando são identificadas pessoas que exerceram algumas funções nos serviços do Estado, estejam elas no ativo ou não", afirmou.
O Wall Street Journal noticiou na quarta-feira que um relatório, segundo o qual Moscovo tem relações privilegiadas com Trump e vídeos chocantes com cenas de sexo que o envolvem, teve origem na empresa londrina Orbis Business Intelligence, dirigida por ex-agentes daquele serviço de informações.
Por outro lado, num artigo longo colocado ao fim do dia de quarta-feira no sítio da BBC na Internet, o jornalista Paul Wood escreveu que "em agosto um espião reformado disse [-lhe] que tinha sido informado (da existência de material comprometedor para Trump) pelo chefe de um serviço de informações do leste europeu".
Mais tarde, acrescentou Wood, questionou, através de intermediários, agentes da Agência Central de Informações (CIA, na sigla em Inglês) no ativo.
Na volta, estes afirmaram que havia "mais do que uma gravação", "áudio e vídeo" e feitas "em mais do que uma data" e em "mais do que um local", identificando os hotéis Ritz-Carlton, em Moscovo e São Petersburgo.
A informação alegadamente comprometedora de Trump também inclui movimentações de dinheiro russo.
A sensibilidade da informação, que circulava há meses em Washington, motivou inclusive reuniões restritas no Congresso com os líderes partidários, em que não foi sequer possível tirar notas.
O então líder dos democratas no Senado, Harry Reid, chegou a exigir, em carta dirigida ao diretor da polícia federal (FBI), James Comey, a divulgação da "informação explosiva" que este teria sobre as relações de proximidade e da coordenação entre Trump, os seus principais conselheiros e o Governo russo.
Wood citou ainda antigos diretores da CIA particularmente críticos de Trump. Um deles, Michael Morell, afirmou no New York Times que Trump foi recrutado por Putin como agente da Federação Russa; outro, Michael Hayden, que também dirigiu a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), classificou Trump no Washington Post como "um idiota útil", recorrendo à expressão russa "polezni durak".