"Pressão para perfeição e sucesso causa sempre infelicidade na criança"

Atitudes, silêncio, tristeza, teimosia, afeto. Afinal, ‘o que se passa na cabeça do meu filho?’. O Lifestyle ao Minuto falou com a autora do livro, Cristina Valente.

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Daniela Costa Teixeira
16/02/2016 16:00 ‧ 16/02/2016 por Daniela Costa Teixeira

Lifestyle

Cristina Valente

Compreender os comportamentos, as oposições, os silêncios e os pensamentos dos filhos não é uma tarefa fácil, mas também não é impossível. No livro ‘O que se passa na cabeça do meu filho’ [Manuscrito], a mentora de famílias Cristina Valente explica as melhores formas de conseguir entender as crianças.

E um dos primeiros passos é “escolhermos o amor em vez do medo”. Em resposta por e-mail ao Lifestyle ao Minuto, Cristina Valente revela que o nascimento da sua filha Constança – que nasceu com líquido cefalorraquidiano) trouxe a vontade de “aproveitar ao máximo o que cada momento presente tem para nos dar”.

“No fundo, é a forma ideal para vivermos todos os dias. De facto, o que fiz foi distinguir entre o que estava dentro do meu controlo e o que não estava. Com aquilo que eu poderia controlar, eu dava o meu máximo. Com o que não podia controlar, largava: Let go and let God. É muito importante sabermos separar as coisas. E escolhermos o amor em vez do medo”, diz.

Ao longo do seu livro, e tentando explicar de forma clara algumas evidências científicas, a psicóloga aborda a importância da aceitação total de uma criança, algo que se torna essencial no caso da mãe.

“A ressonância límbica é o ‘mecanismo do amor’ e é o que promove a ligação entre mãe e filho. Um recém-nascido pode morrer por falta dessa ligação fundamental com a mãe. Ele consegue viver sem o cuidado do pai ou de outros cuidadores. Mas com a falta do olhar, do toque e do cheiro da mãe...as feridas são infinitamente maiores”, explica.

Compreender a criança

Mas além da aceitação, a maternidade e a paternidade têm também muito de compreensão e é aqui que entra a leitura dos pensamentos das crianças. “As birras, a teimosia e o temperamento têm características e objetivos distintos. O que temos que fazer é identificar as diferenças e sabermos o que fazer em cada situação. Ceder em alguns casos, optar por alternativas noutras e procurar o equilíbrio noutras. Mas sempre com amor e respeito”, afirma, garantindo que é possível ler a mente das crianças “pelos comportamentos e conhecendo as leis que regem esses comportamentos”.

E dentro do leque de comportamentos, “existem maus comportamentos e silêncios normais”. Segundo a mentora de famílias, “há comportamentos e silêncios preocupantes” e cabe aos pais estarem “sempre muito atentos e saberem distinguir uns de outros. Para isso não basta a intuição e o instinto. Os pais têm que se ‘formar’em parentalidade”.

Contudo, e no que toca ao silêncio das crianças, este “pode ser sintoma de tristeza, mas não só: uma criança com medo pode calar-se e ter medo de falar. Nunca se devem ensinar as crianças a evitar a tristeza ou o medo - quatro das nossas emoções básicas. Temos é que ensinar a crianças a enfrentá-las, a aceitá-las e a resolvê-las”.  

E podem os pais ser, em parte, ser os culpados pela tristeza dos filhos? Sim: “a pressão para a perfeição e o sucesso causa sempre infelicidade nas crianças, pois elas percebem que não estão a ser ‘suficientemente boas para serem amadas’ e que não estão a cumprir as expectativas”.

Castigar ou não castigar, eis a questão (que se pode responder com comunicação)

Ao Lifestyle ao Minuto, Cristina Valente defende que “castigar uma criança quando se porta mal ou premiá-la quando se porta bem é uma técnica que é usada para treinar animais”.

Para a autora, “as crianças conseguem fazer melhor e crescer sem utilizarmos estes métodos básicos. Estes métodos dão menos trabalho, mas obrigam os pais a estarem sempre a policiar os seus filhos e não treina as crianças para a autonomia nem para a autoestima”.

“Um dos problemas do castigo, para além da dor que sente, é que as faz sentir mais fracas, impotentes e incapazes” lê-se no livro. E a comunicação pode ser a solução.

Mas como deve ser a comunicação com os filhos? Deve ser feita “com amor”. “Significa pararmos tudo, olharmos para os seus olhos e estarmos verdadeiramente interessados naquilo que têm para nos dizer. Falar menos e ouvir mais”, conclui.

Saber falar com uma criança “significa termos uma ideia bem clara daquilo que queremos realmente dizer; e, depois, enviar a nossa mensagem de uma forma carinhosa e assertiva” que, como se lê no livro, implica dar um feedback positivo e encorajar e colocar perguntas abertas.

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