“Os jovens com 18 anos no nosso país serão pouco mais de 100.000, quando há 20 anos andávamos a falar de cerca de 150.000, ou seja, uma redução de cerca de 50.000 pessoas”, disse à agência Lusa o presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup), António Vicente.
Os dados da Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES) mostram que o número total de candidatos às universidades e politécnicos passou de quase 60.000, em 2009, para 53.000 em 2012.
Este ano, apesar de os dados ainda não estarem fechados (está a decorrer a terceira fase), mantém-se a tendência de redução no número de vagas e de alunos, com dezenas de cursos sem qualquer colocado nas primeiras fases, especialmente nos institutos politécnicos do interior.
“Aquilo que mais nos preocupa é que entre mais de 100.000 alunos que fizeram exames nacionais no secundário e que poderiam ter condições para se candidatarem ao Ensino Superior, só 40.000 concorreram”, afirmou o dirigente sindicato independente.
“Não nos parece que, a continuar assim, possamos atingir a meta dos 40 por cento de diplomados em 2020, como nos comprometemos com a Europa”, advertiu.
De acordo com dados recolhidos pelo Conselho Nacional de Educação (Estado da Educação 2012), em 2011 os diplomados do Ensino Superior eram 18,43 por cento dos cidadãos com idades entre os 25 os 64.
Para a quebra da procura no Ensino Superior, estarão a concorrer vários factores, na opinião de António Vicente, entre eles, “as dificuldades económicas” que as famílias atravessam e “a diminuição do número de bolsas”.
“Os custos são elevados, não só o pagamento de propinas (mais de mil euros por ano), como também o alojamento, a alimentação e materiais”, recordou.
Menos alunos e menos dinheiro para as instituições de Ensino Superior acabam por ter reflexos na classe docente e no ensino.
“Temos uma diminuição de cerca de mil docentes, desde 2011, num universo de 25.000 professores, no Ensino Superior Público. É um número com bastante significado, lamentou.
“Acaba por ter algum impacto naquilo que é o trabalho que continua a ter de ser desenvolvido nas instituições”, defendeu António Vicente, referindo que apesar de não ter números concretos sobre o sector privado, as informações que chegam ao sindicato são igualmente de redução de contratos.
Os docentes que mantêm o posto de trabalho acabam por ficar “muitíssimo sobrecarregados, em termos de horas lectivas, do número de alunos que têm por turma”, relatou, assegurando que a qualidade do ensino fica afectada.
A este cenário não é alheio o corte no financiamento público: “Aquilo que estamos a falar é de uma diminuição de 40% nas verbas que são transferidas do Orçamento do Estado, desde 2008. Isto é o valor mais baixo. Só tem paralelo em 1999, quando o número de alunos era bem inferior e até a realidade em termos de instituições era diferente”.
O docente considera que foi já ultrapassado “o limite do que era razoável” e que não é possível reduzir mais o financiamento às instituições sem afectar a qualidade do trabalho que fazem.