Maioria requer audição dos investigadores da morte de José Moreira

O PSD e o CDS-PP requereram hoje a audição na comissão parlamentar de Camarate dos investigadores da morte de José Moreira em 1983, na sequência dos novos dados referentes às circunstâncias do seu falecimento, na altura considerado acidental.

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Lusa
06/11/2013 18:28 ‧ 06/11/2013 por Lusa

País

Camarate

Os requerimentos foram apresentados no final na reunião desta tarde da "comissão parlamentar de inquérito à tragédia de Camarate", onde foi ouvido o jornalista Joaquim Vieira, autor, com Pedro Varanda de Castro, de artigos publicados no jornal Expresso em 1982 que revelavam a utilização do Porto de Lisboa como entreposto ao tráfico internacional ilegal de armas para África do Sul nos anos 70, numa altura em que vigorava um embargo, incluindo munições e explosivos portugueses.

Nos requerimentos agora apresentados, PSD e CDS-PP solicitam a audição de três agentes da Polícia Judiciária (PJ) e de dois inspetores do ministério público e requerem que seja solicitado à PJ a identificação de todos os agentes envolvidos na morte de José Moreira.

O pedido do PSD e do CDS-PP surge na sequência da audição na terça-feira do presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal, Duarte Nuno Vieira, e da médica especialista Rosa Henriques de Gouveia sobre as mortes de José Maniel Silva Moreira e companheira.

Na audição, o presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal disse que algumas autópsias no seguimento da tragédia de Camarate tiveram "insuficiências" e "deficiências" hoje em dia difíceis de aceitar.

José Manuel Silva Moreira, que detinha um avião que foi usado ao serviço da campanha presidencial do general Soares Carneiro, era tido como uma testemunha decisiva na I comissão de Camarate e deveria ter sido ouvido no parlamento dias depois de ter morrido.

A morte do proprietário de aviões foi na altura tida como acidental, por via de uma falha de gás, com os médicos especialistas ouvidos na terça-feira no parlamento a admitirem outros cenários para o óbito.

"Que era uma testemunha fundamental, era. Que não pôde falar porque morreu na véspera de vir à comissão, também. São tudo dados que indiciam claramente que há aqui matéria para explorar. Acho que têm de ser ouvidos também os investigadores que apuraram o acidente", declarou na terça-feira aos jornalistas o deputado do PSD Pedro do Ó Ramos.

Na reunião desta tarde da comissão parlamentar, o jornalista Joaquim Vieira deixou muitas das perguntas dos deputados sem resposta, alegando que as investigações jornalísticas que realizou nada tiveram que ver com Camarate, centrando-se apenas na questão do tráfico de armas a partir de 1981, data em que entrou para o semanário Expresso.

"Não trabalhei sobre os negócios de armas no tempo do Governo de Sá Carneiro", afirmou Joaquim Vieira.

O antigo jornalista do semanário Expresso, que admitiu ter a convicção que a tragédia de Camarate foi um acidente, disse também que durante as suas investigações nunca ouviu falar sobre o Fundo de Defesa Militar do Ultramar.

A X comissão de inquérito ao caso Camarate visa averiguar as "causas e circunstâncias em que, no dia 4 de dezembro de 1980, ocorreu a morte do primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro, do ministro da Defesa Nacional, Adelino Amaro da Costa, e dos seus acompanhantes".

O Fundo de Defesa Militar do Ultramar e o comércio e exportação de armamento são as duas principais linhas de investigação seguidas pela X comissão.

Uma anterior auditoria, às contas do gabinete do CEMGFA entre 1974 e 1980 detetou "diversas discrepâncias contabilísticas" e estabeleceu "ligações financeiras entre o gabinete e o FDMU, evidenciadas pelas transferências entre contas", lê-se no relatório da VIII comissão.

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