De acordo com dados da embaixada portuguesa em Ancara, existirão 300 portugueses a residir no país, 80 por cento dos quais em Istambul, e uma "população flutuante de 150 pessoas", constituindo uma pequena comunidade de profissionais qualificados ou estudantes, que se move nos meios intelectuais, empresariais e liberais.
Há um "movimento ascendente" no número de portugueses que procura a Turquia, disse em declarações à Agência Lusa o embaixador de Portugal em Ancara, Jorge Cabral, que acompanhou a visita oficial de dois dias à Turquia do ministro da Defesa Nacional, Aguiar Branco, hoje de regresso a Lisboa.
Alguns dos novos membros da comunidade vieram estudar, outros representam empresas portuguesas que decidiram investir na Turquia e outros ficaram "por amor", num país que lhes oferece "conforto e segurança".
No caso de Cláudio Rocha, técnico de manutenção de aeronaves, está em Ancara porque a empresa portuguesa para a qual trabalha ganhou um concurso lançado pelo Ministério da Saúde turco para fornecer um serviço de avião-ambulância.
"Foi a empresa que emigrou e eu vim com a empresa", contou o jovem à Agência Lusa, revelando que irá ficar e constituir família, uma história de amor que começou quando "conheceu uma turca que fala muito bem português".
Cláudio Rocha afirmou-se satisfeito com a perspetiva de futuro na Turquia, considerando que "a maneira de viver turca é boa", garante "uma vida segura e calma" e é fácil arranjar emprego, quando comparado com Portugal.
Na sua área, aeronáutica, é mais fácil na Turquia do que em Portugal, sublinhou, destacando, a título de exemplo, o "grande investimento" do Governo turco na companhia nacional, Turkish Airlines, que foi eleita pelos passageiros como a melhor companhia aérea em 2011 e 2012.
Rui Colaço, 26 anos, licenciado em engenharia de materiais, conheceu a namorada turca na Holanda durante um programa Erasmus, decidindo, algum tempo depois, visitá-la nas férias.
"Vim de férias e não voltei", disse Rui Colaço, sublinhando que demorou apenas quatro meses a arranjar emprego.
Sobre a sociedade turca, Rui Colaço disse que são "muito calorosos e recebem bem" mas têm, por outro lado, "características conservadoras", algumas das quais considera incompreensíveis.
É o caso do "tema da semana" na Turquia que está a agitar os meios académicos e liberais: o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan manifestou-se contra a existência de dormitórios mistos nas universidades, afirmando que a prática contraria a tradição da sociedade turca.
Quanto ao papel da mulher na sociedade turca, maioritariamente muçulmana, Mário Tiago Paixão, leitor do Instituto Camões e conselheiro Cultural, afirmou que é um "tema sensível" num Estado que é oficialmente laico.
"Existe uma clara pressão para que as mulheres casem e para que os jovens casais tenham pelo menos três filhos, apesar de a licença de maternidade ser de apenas três meses, com uma redução substancial do salário", referiu.
Mário Tiago Paixão, que está na Turquia há cinco anos e também namora com uma turca, sublinhou o predomínio dos jovens na sociedade, num país com uma média de idades de 31 anos.