"Ser inactivo não é vergonha quando é condição de quase dois terços"

O professor João César das Neves escreve hoje, na coluna de opinião que assina no Diário de Notícias, sobre “o pior desta crise”: o emprego; sugerindo que para enfrentá-lo é “preciso ajustar os sistemas à realidade”. Sustentando que “hoje muitos sentem-se úteis acima dos 80, mas há mais de 20 anos que foram forçados à inacção”, pelo que, defende César das Neves, “ser inactivo, desempregado ou precário não pode ser vergonha, quando é a condição de quase dois terços dos cidadãos”.

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Ana Lemos
09/12/2013 12:41 ‧ 09/12/2013 por Ana Lemos

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César das Neves

“O pior desta crise está no emprego” um “problema de altíssima taxa de inactividade” que “é europeu, não só português”, escreve hoje o professor universitário João César das Neves, considerando que “para combater é preciso ajustar os sistemas à realidade” e não ter “medo que mais actividade aumente o desemprego, pois trabalho cria trabalho” e “é ociosidade que paralisa a economia”.

Neste sentido, prossegue, “ser inactivo, desempregado ou precário não pode ser vergonha, quando é a condição de quase dois terços dos cidadãos”, além disso, “idosos, estudantes, crianças, donas-de-casa, [assim] como artistas, políticos, sindicalistas, sacerdotes, têm funções decisivas, apesar de não terem emprego”.

“Antes uma pessoa de 65 anos era muito velha e trabalhava (…) hoje muitos sentem-se úteis acima dos 80, mas há mais de 20 anos que foram forçados à inacção”, afirma João César das Neves, acrescentando que “o envelhecimento activo é cada vez mais apresentado como meio decisivo para a qualidade de vida, depois de termos feito tudo para amarrar os idosos à inércia”.

Na opinião do professor esta “referida taxa de actividade resulta, em boa medida, de os políticos oferecerem às populações, como grande benesse, aquilo que na prática constitui a condenação à irrelevância e ociosidade, tantas vezes acompanhada de aborrecimento, solidão, apatia”.

“A solução do nosso drama laboral”, escreve, “seria fácil se conseguíssemos abandonar ideias feitas que décadas de propaganda nos gravam na mente. É preciso”, por isso, “subir a idade de reforma e conceber processos educativos mais curtos, dirigidos e eficazes”.

Na coluna que assina no Diário de Notícias conclui que, “estas mudanças ajudariam até o pior problema nacional a que, por isso mesmo, ninguém liga: a decadência familiar e colapso da fertilidade. Mas a humanidade nunca consegue que os conceitos e opiniões mudem ao ritmo do real”.

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