O Arrebita! será um dos projetos de empreendedorismo social abrangidos pela jornada que hoje o Presidente da República, Cavaco Silva, dedica a este setor, no Porto, da qual farão parte várias visitas e reuniões com empreendedores sociais.
É na Rua da Reboleira, na Ribeira do Porto, que fica localizado o edifício que tem sido o projeto-piloto do Arrebita!, cuja reabilitação surge de um modelo colaborativo e é uma obra sem fins lucrativos ou especulativos.
Em entrevista à agência Lusa, o arquiteto José Paixão, de 30 anos, explica que este é "um processo muito invulgar", que reside num modelo de parcerias resultante de uma rede constituída, atualmente, por cerca de 40 entidades, entre empresas fornecedoras de materiais, de consultoria e de logística.
"Este é o nosso projeto-piloto, em que estamos a testar a eficácia na coordenação e na participação de todas estas partes, para no futuro termos já um modelo sistematizado que possa ser implementado a uma outra escala no centro da cidade do Porto", explicou, adiantando que até ao final de 2014 o edifício -- que estava devoluto há mais de 20 anos - será inaugurado.
Com um edifício localizado numa zona histórica e carismática do Porto, José Paixão explica que "no início custou um pouco à comunidade perceber toda a fase de projeto e planeamento", mas que desde que a obra começou a relação com os locais tem sido "muito aberta", havendo interesse em participar.
O responsável dá o exemplo de João Pacheco, um carpinteiro nascido exatamente na Rua da Reboleira, que se disponibilizou a colaborar e a disponibilizar os seus serviços para esta reabilitação.
"Ele conhece melhor a realidade do abandono no centro do Porto do que qualquer um de nós e tem no Arrebita uma oportunidade para criar algum impacto de mudança mas também para sair valorizado, como acontece com todos os outros parceiros", sublinhou.
A Lusa falou com João Pacheco, junto ao seu pequeno ateliê, com vista para o Douro e para a Ponte Luiz I, onde, juntamente com um dos vários arquitetos estrangeiros que se associam regularmente ao projeto, o experiente carpinteiro fazia a maqueta de uma das soluções encontradas para a reabilitação do edifício, em vez das habituais miniaturas de barcos que faz para "queimar o tempo".
O carpinteiro já se sente um dos elementos do Arrebita! e confessa que abordou os responsáveis pelo projeto, no início, por "curiosidade de ver como é que é possível fazer, hoje em dia, uma reabilitação de um prédio a custo zero" porque "hoje ninguém dá nada a ninguém".
"Quando soube disto do Arrebita! achei que era uma boa para mim porque sinto-me útil, o que já não me sentia há muito tempo em termos de trabalho", desabafou.
José Paixão recusa que este seja "um exercício de beneficência social", explicando que "o objetivo é que sejam também oportunidades de valorização para cada uma das partes" e adiantando que a câmara se compromete "a que a exploração do edifício atenda aos valores sociais do projeto, para que não seja alvo de especulação imobiliária".
"Não estamos norteados pela criação de valor no sentido de lucro mas na criação de impacto social. Em certa medida, o sucesso do projeto seria a resolução deste problema e, por conseguinte, a dissolução da necessidade de haver um Arrebita", sintetizou.