O escritor Miguel Sousa Tavares escreve hoje, na habitual coluna de opinião que assina no semanário Expresso, sobre ‘Jogo Viciado’, aquele que, diz, é “feito sempre entre pares e tendo como objectivo único a protecção do sistema financeiro e lucros das grandes empresas”.
Mas para o comentador político, ainda mais grave é ver “hoje (…) tranquilamente discutirem a descida de salários no sector privado, e o Governo ensaiar a pose heróica de ‘resistir’ a mais uma imposição da troika”. “Acho que perderam mesmo a vergonha”, afirma Sousa Tavares, contestando que “já não é de economia que se trata, mas de decência”.
“Quando vejo o grupo Pingo Doce a anunciar que vai oferecer cabazes de produtos alimentares aos seus funcionários que descobriu estarem a passar fome – ou seja, que lhes vai dar uma esmola em vez de subir os salários – e ainda oiço o seu patrão pregar lições de austeridade, de bom governo e de patriotismo aos que vivem do trabalho e aqui [em Portugal] pagam todos os seus impostos, eu, sem me imiscuir nas crenças ou descrenças de quem quer que seja, acho que o Papa Francisco devia convocar para a Santa Fé uma cimeira dos grandes patrões e banqueiros do sistema capitalista mundial, da Holanda à China, e dar-lhes uma lição de moral”, sugere.
E essa “lição de moral”, esclarece, nem tem de ser sobre “os valores cristãos (…) mas sobre simples valores de vida civilizados, que eles [banqueiros e patrões] há muito dispensaram de praticar”.