"Estou muito convencido da necessidade de reorganizar a rede, mas sou muito cético em relação à nossa classe política ser capaz de o fazer", disse António Cruz Serra em entrevista à agência Lusa.
O reitor lembra que a única mudança que ocorreu até agora foi precisamente a fusão da Universidade Técnica e da Clássica que veio dar origem à Universidade de Lisboa (UL), que neste momento tem cerca de 50 mil alunos e um orçamento que ronda os 300 milhões de euros.
Além desta mudança, as restantes instituições de ensino superior mantêm-se inalteradas.
António Cruz Serra aponta que existem "edifícios excelentes com um corpo docente muito deficiente" e noutros casos "corpos docentes equilibrados, mas sem alunos" e que, por isso, é preciso corrigir a situação até porque "o país não tem dinheiro" para manter a rede tal como está.
"Não podemos ter na mesma área geográfica ofertas formativas dos mesmos cursos sem atratividade. Um curso aqui, outro curso a 20 quilómetros, outro a 40 kms, e todos com muito pouca atratividade. É preciso especializar e ser capaz de tomar medidas que não vão ser fáceis", defende.
Cruz Serra dúvida, no entanto, da capacidade política para conseguir avançar com a reorganização da rede, por considerar que existem "demasiados compromissos com o pior que existe no sistema político nacional, que são as comissões politicas distritais, as federações distritais, os autarcas e todos os interesses que se movem".
O reitor da maior universidade do país reconhece que existem interesses que se movem "legitimamente" para conseguir ter as instituições nos diferentes locais do país mas, muitas vezes, estas posições não correspondem ao interesse nacional.
Por isso, defende a necessidade de reorganizar a rede, considerando que não será preciso fechar polos no interior, bastando apenas fazer uma gestão diferente: "Alguns são polos de desenvolvimento importantes do interior para fazer a reorganização, mas esses polos devem ser geridos a partir de centros onde haja competência, massa critica e uma quantidade de recursos instalados que permitam gerir com eficiência os polos da rede".
O reitor acredita que não existem polos em excesso, uma vez que a aposta deve ser em aumentar o número de alunos no ensino superior nos próximos tempos: "Deveríamos ter como objetivo duplicar o número de alunos no ensino superior, num prazo de dez anos".