A revelação da suspeita constitui a manchete da edição de hoje do diário Jornal de Angola, que publica uma entrevista com o PGR adjunto, Beato Paulo.
"Neste momento, estão detidos em prisão preventiva quatro arguidos: Júnior Maurício, Francisco Pimentel Daniel, Augusto Mota e João Fragoso, pertencentes à Polícia Nacional e ao SINSE. Estão indiciados da prática de crimes de homicídio voluntário. Quando tivermos todos os exames periciais, relatórios e outros elementos necessários, estamos em condições de remeter o processo ao Tribunal Provincial de Luanda e isso vai acontecer em breve", anunciou Beato Paulo.
Os dois ex-militares, Alves Kamulingue e Isaías Cassule, foram raptados na via pública, em Luanda, nos dias 27 e 29 de maio de 2012, quando tentavam organizar uma manifestação de veteranos e desmobilizados contra o Governo de José Eduardo dos Santos.
Mesmo depois do rapto, os ex-militares saíram em duas ocasiões à rua, nos dias 07 e 20 de junho de 2012, ambas não autorizadas, com a última a ser dispersada com tiros para o ar e granadas de gás lacrimogéneo.
O anúncio de quatro detenções, cujas identificações foram reveladas na entrevista, foi feito pela PGR de Angola num comunicado distribuído no passado dia 13 de novembro.
Dois dias depois deste comunicado, o chefe do Serviço de Inteligência e de Segurança do Estado (SINSE) de Angola, Sebastião Martins, foi demitido do cargo pelo Presidente, José Eduardo dos Santos.
Os motivos da demissão não foram revelados, mas estarão relacionados com o envolvimento de agentes do SINSE no homicídio dos dois ex-militares.
Sebastião Martins acumulou a chefia do SINSE com o cargo de ministro do Interior, para o qual foi nomeado em 2010 e que abandonou em outubro de 2012, por não ter sido reconduzido na formação do novo executivo saído das eleições de agosto de 2012.
O caso da morte dos dois ex-militares esteve na base da subida da tensão política verificada nas últimas semanas em Angola, com a realização, no dia 23 de novembro, de manifestações em vários pontos do país, convocadas pelo principal partido da oposição, União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), consideradas previamente ilegais pelas autoridades.
O segundo maior partido da oposição, a coligação eleitoral Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), associou-se à causa e, na sequência de uma colagem de cartazes, também em várias províncias, um seu dirigente viria a ser abatido, em Luanda, por efetivos da Guarda Presidencial, por alegada violação do perímetro de segurança do Palácio Presidencial.
O funeral deste dirigente, no dia 27 de novembro, voltou a fazer subir a temperatura política, com os participantes na cerimónia a quase confrontarem-se com a polícia, por insistirem em acompanharem o caixão a pé, numa distância de quatro quilómetros, dentro de Luanda.
No dia seguinte, foi a vez dos deputados das quatro forças políticas da oposição abandonarem os trabalhos do parlamento, em virtude do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), ter inviabilizado a realização de um debate sobre os acontecimentos.
Na entrevista publicada hoje pelo Jornal de Angola, a PGR angolana acrescenta que prosseguem as investigações.