Em entrevista à Rádio Renascença, o padre Jardim Moreira contesta as declarações do presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, que afirmou que os Fundos de Bruxelas para combater a pobreza podem tapar buracos do Estado. Para o padre português, a Comissão Europeia não devia permiti-lo.
Segundo dados da União Europeia, cerca de 2,7 milhões portugueses vivem em situação de risco de pobreza ou de exclusão social. Jardim Moreira identifica vários tipos de pobres, “os antigos pobres e os pobres de pobreza mais difícil” e agora os “novos pobres, que perderam tudo” e que sem o apoio das famílias estariam em situações muito mais complicadas. Para este, estas dificuldades existem porque “o Estado não tem correspondido. Aumentam as despesas, aumenta a carga fiscal, aumenta o IVA e diminui a capacidade de participação dos próprios utentes”.
A solução, segundo o mesmo, passa por um “plano nacional que ajude a sair desta situação sempre redundante”, mas que neste momento não está a “ser considerado nestas políticas de ataque à crise” e num país onde “há cada vez mais pobres e cada vez mais ricos e onde “a injustiça campeia”.
O padre Joaquim Moreira recordou que Bruxelas consignou “que uma parte dos fundos estruturais fossem para a pobreza” mas que acabou por condicionar tudo isso “quando deixou ao cuidado de cada país a gestão dos fundos segundo o princípio da subsidiariedade” e ao consentir que “esses dinheiros podem ser desviados para “caixas” [Geral de Depósitos] e fundos do Estado, em vez de serem encaminhados para o desenvolvimento dos mais pobres” r pede a Bruxelas que chumbe este tipo de pretensões.
O elesiástio critica, ainda, a Igreja que “está convencida de que os centros sociais paroquiais são o exercício da caridade da Igreja.
“Eu tenho uma imensa pena que a Igreja não tenha coragem a nível hierárquico de clarificar esta situação, de apelar a que se actue numa resposta a nível mais local. Como dizia o Padre Américo, cada paróquia que resolva o problema dos seus pobres […] É pela caridade, que não é a partilha do que me sobra, mas a partilha gratuita dos bens que me fazem falta. Temos de avançar para uma sociedade civil que assuma que as soluções para os problemas cabe a todos e não só ao Estado. Todos nós temos que olhar para o nosso próximo. Amar o próximo, a começar pela família.”, conclui.