À saída da décima reunião com especialistas no Infarmed, Marcelo Rebelo de Sousa começou por afirmar que os temas discutidos foram "muitos, ricos e importantes". Um dos assuntos em cima da mesa, indicou, foi a comparação do que se passa em Portugal com outras realidades europeias. "De uma forma geral, pode dizer-se que nessas sociedades se assiste a um desconfinamento progressivo e, em muitos casos, superior ao desconfinamento verificado em Portugal", frisou.
"Também se verificou que jogando com indicadores diferentes, se terá resultados diferentes sobre a incidência da pandemia nos vários países", disse o Presidente da República, exemplificando que "se se atender apenas ao número de infetados e contagiados, há um ranking que se estabelece"
Por outro lado, prosseguiu, "se se atender à deteção dos infetados e contagiados, verifica-se que Portugal se encontra numa posição cimeira".
"Mas em comum há uma preocupação", apontou o chefe de Estado, referindo-se à aplicação de medidas concretas. "País a país, foi verificado que a orientação é hoje, olhando aos surtos, intervir de forma localizada e específica".
A região de Lisboa e Vale do Tejo, disse Marcelo, "mereceu uma atenção particular". Aí abordou-se o "significado que tem a população entre os 20 e os 40 anos, e o peso que veio a ganhar ao longo das últimas semanas".
Em simultâneo, os especialistas abordaram ainda "o significado que tem a população acima dos 75, 80 anos" e "o facto de se entender que a coabitação é o factor mais importante, em termos de explicação causal dos surtos surgidos e, logo de seguida, a convivência social, que tem vindo a ganhar importância".
Marcelo revelou ainda que foi apresentado um estudo "que parece demonstrar que não há ligação entre o transporte ferroviário" e o surto pandémico na região de Lisboa. "É um dado novo que não era conhecido, mas que foi estudado de forma quantificada", afirmou.
Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que o estudo apresentado mostra que "linhas que à partida se consideraria de risco maior" para a propagação da doença representam afinal um risco "escassíssimo" e não constituem "um fator causal determinante ou decisivo".
Estabilização com tendência para descida ... mas ainda é cedo
O Presidente da República disse que o R nacional se encontra em 0.8 e, na região de LVT, em 0.97. "Olhando para os últimos dias, o que foi dito é que há uma estabilização da incidência e uma tendência, embora ligeira, de aparente descida, por ventura fruto das medidas tomadas", resumiu, ressalvando, contudo, ser "muito cedo para fazer uma avaliação definitiva".
Quanto à capacidade de resposta no Serviço Nacional de Saúde, Marcelo referiu que "há dados interessantes", como seja "o tempo mediano de internamento" que está hoje entre os 10 e os 11 dias, no internamento geral, e os 17 e os 19 dias nos cuidados intensivos. "O que, para um cenário que se pode considerar relativamente pessimista, de 338 casos diários novos, haveria um número de internados, em média, de 39, e um cálculo total de internados de 607, 91 nos cuidados intensivos". Ou seja, concretizou, "bem dentro da capacidade global do SNS".
O grupo regional de intervenção em LVT apresentou dados do aumento de recursos humanos, mais 40% no terreno, da vigilância exercida sobre mais de 1.600 casos específicos, 421 famílias, adiantou também o chefe de Estado.
Fim das reuniões no Infarmed
Fazendo, por fim, um balanço das reuniões no Infarmed, Marcelo anunciou o fim destas sessões. "Terminamos hoje uma experiência de vários meses, iniciada no final de março em pleno estado de emergência", disse, acrescentando que o conjunto de sessões epidemiológicas foi "muito importante", sobretudo numa primeira fase.
Estes encontros, destacou, permitiram um "contacto aberto entre especialistas e decisores políticos". No entender do Presidente, tratou-se de "uma experiência única, não verificada em nenhum outro país europeu e, que se saiba, em nenhum outro país do mundo", que "facilitou a convergência" e a "troca de pontos de vista".
Marcelo realçou ainda a transparência destas reuniões, "ao ponto de, Presidente da República, presidente da Assembleia da República e primeiro-ministro saberem exatamente o mesmo, à entrada, que os outros participantes". "É o máximo de transparência que se pode imaginar num exercício destes", portanto, concluiu: "valeu a pena fazer este exercício".
O fim das sessões no Infarmed justifica-se por vários motivos, segundo Marcelo. Em primeiro lugar, pelo facto de estarem em curso estudos epidemiológicos e serológicos que estarão concluídos nas próximas semanas ou nos próximos meses. Por outro lado, "há convicção da estabilidade da situação e da sua durabilidade". E ainda, por se estar a "passar do plano macro para o plano micro", justificou Marcelo, analisando que o nível de atuação é agora mais a nível concelhio ou de freguesias.
Nesta fase de transição de modelos, "as medidas necessárias têm que ser mais medidas de pormenor, mais medidas específicas com melhor informação no terreno, melhor análise e mais rápida e concreta decisão", defendeu.
Por todos os motivos enumerados, o Presidente da República enfatizou que "parece sensato encerrar esta fase que corresponde a um modelo que cumpriu a sua missão, mas que o tempo mostrou que é um modelo que tem de ser reajustado para novas circunstâncias" como é o caso da situação em LVT.