Em entrevista à agência Lusa, José Queirós, diretor executivo da Agência Piaget para o Desenvolvimento (APDES), lembrou que essa é a razão que levou a ONG portuguesa a promover, em parceria com o Governo cabo-verdiano, a 1.ª Conferência Internacional sobre Políticas de Droga nos PALOP, que termina hoje na Cidade da Praia.
Uma das ideias da conferência é criar uma "plataforma de trabalho" entre os executivos de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, que estão a demonstrar uma "grande recetividade" perante a necessidade de experimentar trocar saberes, metodologias e conhecimentos entre profissionais, serviços públicos e serviços prestados por ONG, salientou.
"A maior parte dos Governos está a demonstrar uma grande recetividade a esta plataforma de trabalho, pois percebeu que é necessário experimentar a troca e partilha de forma a melhorar as respostas que tem de dar aos consumidores de drogas e comunidades envolventes", sublinhou José Queirós.
O diretor executivo da APDES, com sede no Porto, disse esperar que a conferência da Cidade da Praia, iniciada na quarta-feira, possa começar a apoiar o grande problema que existe nos cinco países: procurar uma melhor articulação entre as políticas de combate às drogas, de repressão, e as de saúde e proteção social.
"O que faltava, e irá faltar ainda durante algum tempo, é uma melhor articulação entre as políticas de combate às drogas, relativas ao tráfico e à questão da oferta, e outras voltadas para os utilizadores de drogas, para os que fazem consumos problemáticos de drogas e que precisam de apoio social, sanitário e de um cuidado que, neste momento, ainda não é tido em conta modo devido", explicou José Queirós.
A mesma resposta dada ao que faltava serviu também para o que está a ser feito e o que deve ser feito, tendo José Queirós acrescentado a ideia que parece estar a surgir entre os Governos dos PALOP, de mudança de atitude política face à desarticulação.
"Parece-nos que muitos políticos dos PALOP, muitos Governos, estão a tomar uma consciência crítica de que é necessário, não só combater as drogas e utilizar as políticas de drogas, mas também voltarem-se para os seus cidadãos e comunidades e começarem a promover o bem-estar como um dos objetivos primeiros da sua intervenção e dos seus desenhos de políticas públicas".
Nesse sentido, defendeu, para o futuro, um maior investimento nos recursos financeiros e técnicos, na formação de profissionais e na construção de dispositivos de saúde que apoiem os consumidores de drogas, suas famílias e comunidades envolventes.
Esta articulação de políticas, "ou esta nova perspetiva um pouco mais orientada para as questões de saúde e de proteção social", poderá partir de um protocolo de cooperação que deverá ser estabelecido hoje entre os diferentes Governos dos PALOP.