‘Os facilitadores’ é o título do artigo de opinião que o escritor e comentador Miguel Sousa Tavares assina, este fim-de-semana, no semanário Expresso, e que serve de mote para recuperar a questão da nomeação do advogado José Luís Arnaut para a Goldman Sachs e as declarações de “António Esteves, apresentado como ex-desportista de elite e atual partner do banco”.
“Os planos que eles têm para Portugal” são, escreve Sousa Tavares, “de deixar em estado de alerta quem quer que conheça a história desse grande predador global que é a Goldman Sachs. Quase de pode dizer que o que é bom para a Goldman Sachs é fatalmente mau para os países onde eles fazem negócios, para os seus consumidores e contribuintes”.
“Agora que 250 mil portugueses pagaram com o desemprego e outros tantos com a emigração as políticas devastadoras impostas pelo resgate”, “ agora que o resgate estilhaçou a legislação laboral”, “agora que o Governo, fiel executante do ‘programa de ajustamento da economia portuguesa’, vende tudo o que é empresa estatal lucrativa”, “agora que as grandes empresas privadas (…) ou se expatriaram ou foram descapitalizadas por taxas de juro bancárias insustentáveis”, “agora que, enfim, Portugal se tornou barato, vulnerável e indefeso” é que “António Esteves, como grande bancário que é, repara que ‘há oportunidades muito interessantes para os investidores’”.
“Foi isso que eles [Goldman Sachs] já fizeram, tornando-se o maior acionista privado dos CTT” e “não contribui muito para me sossegar a notícia da contratação de José Luís Arnaut”, a quem Sousa Tavares diz desconhecer “qualquer talento ou experiência bancária”, pelo que “resta o seu talento no capítulo ‘pessoas’”. “Uma prospera atividade em qualquer lugar do Mundo, mas sobretudo em países como Portugal, onde tudo pode ser vendidos, concessionado, facilitado, negociado, e onde a intimidade com o poder é a chave dos grandes negócios”.
Com este rumo , prossegue o escritor e comentador, “quando acontecer o 1640 de Paulo Portas, marcado para 17 de maio (fim do programa de ajustamento), só por inconsciência ou por conveniência se poderá dizer que recuperamos parte da nossa soberania”.
Porque nessa altura, “apesar da privatizações, a dívida pública terá aumentado” e “Portugal terá alienado quase tudo o que, no setor económico, público ou privado, caracteriza um país soberano”, afirma Sousa Tavares, dando o exemplo da eletricidade, de parte substancial da Banca, dos combustíveis, telecomunicações, cimentos, aeroportos, “a única companhia área” que tem, os correios, “um terço do mercado de seguros” e “o próprio fornecimento de água”.
“Se isto vai ser um país soberano” no qual quem determina são os “’facilitadores de negócios’”, então “prefiro que voltem os Filipes”, remata Sousa Tavares.