José Rodrigues dos Santos foi alvo de várias críticas depois da entrevista feita a José Sócrates na RTP, ontem à noite.
O jornalista e também escritor aproveitou a sua página no Facebook, onde recebeu muitas das críticas, para esclarecer a função de um jornalista e justificar a sua atitude para com o ex-primeiro-ministro.
“Uma leitora chega mesmo a perguntar em que escola aprendi jornalismo. A resposta é: na BBC. Sei que se calhar não é suficientemente boa, mas foi o que se pôde arranjar”, começou por escrever, de forma irónica.
Depois, num tom mais sério, explicou que “a isenção de um jornalista não é obrigatória. Depende da linha editorial do jornal”, assegurando que “no caso da RTP, a linha editorial é de isenção. Isto acontece porque se trata de um meio público, pago por todos os contribuintes, pelo que deve refletir as diferentes correntes de opinião”.
Ao longo da sua resposta, José Rodrigues dos Santos esclarece que as “entrevistas políticas” “são, por natureza, confrontacionais”.
“Uma vez que o agente político que está a falar não tem ninguém de outra força política que lhe faça o contraditório (como aconteceria num debate), essa função é assumida pelo entrevistador. O entrevistador faz o contraditório, assume o papel de advogado do diabo. Portanto, o jornalista suspende por momentos a sua isenção para questionar o entrevistado. Isto é uma prática absolutamente normal”, escreve.
Mas não se ficam por aqui as explicações. O romancista refere que “o entrevistador não é nem pode ser uma figura passiva que está ali para oferecer um tempo de antena ao político. O entrevistador não é o ‘ponto’ do teatro cuja função é dar deixas ao ator. Ele tem de fazer perguntas variadas, incluindo perguntas incómodas para o entrevistado. Não deve combinar perguntas com os políticos, mas deve informá-lo dos temas”.
E sobre o caso propriamente dito, José Rodrigues dos Santos garante que Sócrates sabia quais os temas que iam estar em cima da mesa.
“É falso que José Sócrates desconhecesse esta minha linha de pensamento. Almoçámos e expliquei-lhe o meu raciocínio. Avisei-o de que, se encontrasse contradições ou aparentes contradições entre o que diz agora e o que disse e fez no passado, as colocaria frente a frente e olhos nos olhos, sem tergiversações nem subterfúgios, como mandam as regras da minha profissão. Far-me-ão a justiça de reconhecer que fiz o que disse que ia fazer”.
O jornalista traçou o caminho seguido por Sócrates que foi, no fundo, o que o levou a confrontar o ex-primeiro-ministro.
“Ele foi primeiro-ministro durante seis anos e acabou o mandato com o país sob a tutela da troika. Quando era chefe do Governo, começou a aplicar medidas de austeridade. No PEC I foram muito suaves (cortes em deduções fiscais e outras coisas), mas foram-se agravando no PEC II (aumento de impostos) e no chamado PEC III, que na verdade era o Orçamento de 2011 (corte de salários no sector público, introdução da Contribuição Especial de Solidariedade aos pensionistas, aumento de impostos, cortes nas deduções, etc). Defendendo estas medidas, afirmou em público que ‘a austeridade é o único caminho’. Agora, nas suas declarações públicas, ele mostra-se contra a austeridade. Estamos aqui, pois, perante uma contradição - ou aparente contradição. Não tem um jornalista o dever de o colocar perante essa (aparente ou não) contradição, dando-lhe assim oportunidade para esclarecer as coisas?”, questiona.
Leia aqui a resposta de José Rodrigues dos Santos na íntegra.