Falta, no entanto, perceber se a descida de 23% para 6% da taxa de IVA dos frutos secos com casca rija se aplica ao miolo de pinhão, uma dúvida que os industriais pediram às Finanças para esclarecer, há três meses, e para a qual continuam a aguardar resposta.
"Ninguém nos diz se o pinhão é [taxado] a 6% ou a 23%. Claro que se [o IVA] for de 6% e começarmos a faturar a 6%, isso vai baixar os preços do pinhão. Mas também é um risco estarmos a faturar a 6% e virem depois dizer que afinal é 23%", disse à Lusa o presidente da Associação dos Industriais de Miolo de Pinhão (AIMP), Hélio Cecílio.
Sem certezas, as empresas estão a atrasar a faturação.
"A minha fábrica, neste momento, está a deixar de faturar porque não temos a certeza se é a 6% ou a 23% e não há ninguém nas Finanças que interprete a lei", desabafa o industrial, enquanto guia os jornalistas pela fábrica Cecílio, uma empresa sediada em Coruche e que produz pinhão há mais de meio século, faturando cerca de 7 milhões de euros por ano.
Mas este não é o único fator que explica o elevado custo do pinhão. E talvez o mais importante seja até a falta de matéria-prima que, nos últimos anos, tem sido "notória".
"Como há pouca matéria-prima, o preço do produto sobe, porque não há", justifica Hélio Cecílio.
O pinhão, cujo preço médio à saída da fábrica nos últimos dez anos, rondava os 30 euros por quilo, disparou no ano 2013/2014 para os 45 euros por quilo, o que representa uma subida de 14%.
Para os consumidores, chega a custar o dobro.
A apanha, que continua a ser essencialmente manual, implicando despesas elevadas com a mão-de-obra, e as margens de comercialização, que Hélio Cecílio considera "exageradas", também ajudam a explicar porque é que o pinhão vale ouro.
O pinhão é encarado pelos supermercados e grandes cadeias de distribuição como um produto sazonal, que ajuda a melhorar as margens, mas o responsável da fábrica Cecílio entende que todos teriam a ganhar se os preços baixassem.
"Penso que se baixassem mais o pinhão venderiam mais e seria melhor para todos", sublinha.
Com um valor estimado de 75 a 80 milhões de euros por ano, considerando o preço médio de 30 euros pagos por quilo nos últimos dez anos, o negócio parece ser atrativo e a área de pinheiro-manso tem crescido, por vezes à custa do sobreiro.
"Em anos normais, estamos a chegar a conclusão de que o pinheiro é mais rentável do que a cortiça porque dá todos os anos enquanto o sobreiro só dá de nove em nove anos. Julgamos que há uma valorização para quem optar pelo pinheiro manso", afirmou o responsável da AIMP.
Mas as pinhas não têm sido suficientes para satisfazer a procura, mesmo numa "zona de excelência" como a mancha verde que se estende entre Ponte de Sor, Mora, Coruche, Vendas Novas e Alcácer do Sal, onde não se conseguiu comprar "nem uma pinha este ano".
Hélio Cecílio atribui responsabilidades à praga de Leptoglossus occidentalis, um inseto proveniente dos Estados Unidos e que já fez estragos em Itália, e reclama "uma investigação a sério" ao problema: "Devia ser feita uma investigação a sério (...) e ver o que realmente é: se foi o 'Leptoglossus' ou se foram razões climáticas que deram origem a estes três anos sem pinhas".
Para 2015 perspetiva-se um bom ano, até mesmo "extraordinário", desde que "as pinhas não se estraguem", por ataque de doenças ou falta de chuva.
A produção média de pinha ronda as 80 mil toneladas (que dão entre 2 a 2.500 toneladas de miolo de pinhão branco), mas esta é "uma indústria de risco" em que os resultados não são iguais todos os anos.
"Temos anos em que ganhamos dinheiro, mas temos anos, como este que passou, em que o rendimento das pinhas foi tão baixo que todos nós perdemos muito dinheiro", nota o presidente da AIMP.
A indústria exporta cerca de 90% da produção, sobretudo para Itália, onde o pinhão é essencial na cozinha tradicional, mas tem de competir com outros países produtores, como Espanha, ao nível da compra da matéria-prima, "porque não há que chegue".
O pior, no entanto, é a concorrência asiática, que leva o pinhão chinês e paquistanês até aos consumidores a um preço muito mais baixo.
Hélio Cecílio alerta, contudo, para as exigências de qualidade alimentar que "não dão confiança ao consumidor" e não tem dúvidas sobre qual agrada mais:
"O gosto não tem nada a ver. O nosso tem aquele gostinho, aquele perfume do pinheiro e da floresta...".