"Quando há cortes drásticos no apoio à investigação científica, não se pára a máquina, esta estraga-se", criticou o Nobel da Medicina Bruce Beutler, considerando que depois "só reconstruindo a máquina" se consegue recuperar.
Para o laureado, os cortes "viram grandes prejuízos para a sociedade e danos a longo prazo".
Segundo o britânico Tim Hunt, também Prémio Nobel da Medicina, o apoio à ciência "é, normalmente, uma fração muito pequena do orçamento" de um Estado e, "portanto, é preciso ter-se muito cuidado com as flutuações", sendo preferível "pequenas variações do que alterações radicais".
Os cortes na investigação fazem com que "sejam sempre as pessoas mais talentosas a sair do país" e isso "pode levar uma geração a recuperar", sendo "perigoso" para a investigação científica.
Jean-Marie Lehn, laureado com o Prémio Nobel da Química em 1987, corroborou a ideia, enaltecendo "o retorno intelectual e tecnológico" que a investigação cria.
A diminuição do apoio à investigação científica "vai atrasar o desenvolvimento de uma população", referiu, acrescentando que, para além do investimento na ciência, é necessário "um sistema de ensino público" de qualidade, que proporcione um desenvolvimento "igual para todos".
"Se a educação fosse bem apoiada e estruturada, teríamos as mesmas chances e teríamos a possibilidade de otimizar os cidadãos de um país", defendeu.
Jean-Marie Lehn alertou ainda para "o grande desafio mundial do desemprego", sublinhando que "o desenvolvimento tecnológico deve ter o cuidado de não eliminar empregos para as pessoas".
Os laureados falavam à agência Lusa num encontro com a imprensa, hoje de manhã, na Quinta das Lágrimas, em Coimbra, depois de terem estado presentes na inauguração do Centro de Ensaios Clínicos do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, que decorreu na sexta-feira.