Um geógrafo que estuda o movimento de areias na faixa litoral entre o Cabo Mondego e São Pedro de Muel conclui que, anualmente, o volume de areia que fica retido na praia da Figueira da Foz ascende a 230 mil metros cúbicos, o equivalente a 23 mil camiões que, se dispostos em fila contínua, ocupariam os mais de 300 quilómetros de ligação por autoestrada entre Lisboa e Porto.
De acordo com José André, a areia acumulada na praia da Figueira da Foz nos últimos três anos, é consequência direta do prolongamento em 400 metros do molhe norte do porto comercial e contribui para a erosão verificada nas praias a sul, desde os areais da Cova-Gala até à praia do Pedrogão, já no distrito de Leiria.
Em declarações à agência Lusa, o especialista considerou "muito preocupante" a situação imediatamente a sul da povoação da Cova, onde a duna "praticamente desapareceu" com os temporais dos últimos meses e o mar avançou floresta dentro.
"Foram erodidos cerca de 24 a 25 metros de duna em cinco meses. Há galgamentos oceânicos já para o interior que se prolongam por 200 metros", frisou José André.
"O braço sul do [rio] Mondego está aqui a 700 metros. Se nada for feito, numa próxima maré meteorológica como aconteceu nestes meses de dezembro, janeiro e fevereiro, não tenho dúvidas que o mar faz ligação com o braço sul do Mondego", avisou.
Para José André, as areias depositadas na praia da Figueira da Foz "têm de passar para sul" e, não o fazendo por um processo natural, "terão de passar por um processo artificial", com recurso a meios mecânicos como um 'bypass', solução que tem vindo a ser defendida no projeto Cidade Surf do movimento de cidadãos SOS Cabedelo.
"O professor José André diz e constata com dados científicos aquilo que toda a gente vê e não quer ver há muitos anos na Figueira da Foz. A praia cresce desmesuradamente e é realmente uma tragédia e uma catástrofe natural", afirmou Eurico Gonçalves, daquele movimento, que vai buscar o seu nome precisamente a uma das praias a sul do Mondego.
A solução que preconizam passa pela instalação, junto ao molhe norte, de um sistema de sucção de areia em meio marinho, depois transportada por tubagens por baixo do leito do rio e lançada a sul, permitindo que os sedimentos se voltem a incorporar nas correntes marítimas.
"À semelhança de outros países que têm estas grandes obras costeiras, propomos o mesmo, instalar uma solução que ajude a Natureza a continuar o seu curso", ilustrou.
A praia da Figueira da Foz, o maior areal urbano da Europa, possui, atualmente, cerca de 650 metros de extensão no seu ponto mais largo e tem vindo a crescer cerca 40 metros por ano, desde o prolongamento do molhe norte, em 2010.