"Estar na Europa, nestas condições, é uma prisão"

O diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos, acredita que o pós-troika “vai durar mais tempo”, até porque “deixou tudo planeado”. Nesta entrevista ao jornal Público, publicada hoje, defende que Portugal não ganhou nada com a integração na União Europeia, pelo contrário, “ficámos pior” e “a carta de intenções, o próprio euro e o tratado orçamental” impedem que o país dê a volta. Assim sendo, conclui, “estar na Europa, nestas condições, é uma prisã

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Ana Lemos
26/05/2014 11:42 ‧ 26/05/2014 por Ana Lemos

País

Boaventura Sousa Santos

“O pós-troika vem mostrar que esta condição vai durar mais tempo e que o objetivo que se pretendeu com a integração na União Europeia – tentar ver se Portugal saía do estatuto de país semiperiférico – não foi possível”.

A afirmação pertence a Boaventura de Sousa Santos, diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, que em entrevista ao jornal Público, publicada esta segunda-feira, considera que a intervenção da troika em Portugal acabou com “o modelo de coesão social da Europa”, que “é [agora] um sonho vazio”.

Na opinião de Boaventura Sousa Santos, “a troika sai [mas] não há Europa da coesão social. Há uma Europa de concorrência entre Estados, mais desenvolvidos e menos desenvolvidos”. Ao jornal Público refere que “a carta de intenções, o próprio euro e o tratado orçamental são as três coisas que impedem que Portugal dê a volta criativa, como fez o Equador, que pagou a sua dívida no mercado secundário ou a Argentina, que rompeu dom co FMI. Estar na Europa, nestas condições, é uma prisão”.

“Portugal continuará a fornecer a mão-de-obra e nada mais”, visto que, destaca, “tínhamos passado a ser um país de imigrantes, voltamos a ser um país de emigrantes. Tínhamos direitos sociais no domínio do trabalho, velhice, educação e saúde, que têm sido precarizados de modo a que Portugal se pareça, cada vez mais, com um país subdesenvolvido ou do terceiro mundo”.

Neste sentido, conclui, “a tentativa [de Portugal deixar de ser um país semiperiférico com a integração na União Europeia] foi tão mal gerida que ficámos pior. Não ganhámos nada em termos da nossa posição no sistema mundial, não ganhámos nada com a integração na UE e ficámos pior, porque perdemos os instrumentos que poderiam, de alguma maneira, provocar uma retoma significativa da nossa economia e da nossa sociedade”.

“O que não estão a ver é que a troika vai ficar, deixou tudo planeado” e a alternativa a esta situação, sublinha, “teria de ser protagonizada pelo PS, eventualmente em aliança com partidos à sua esquerda”. Acontece que, defende, “a coragem do PS foi sempre contra a esquerda e continua a ser” e “como os ventos agora vêm da direita, não estou a ver a coragem. Pelo contrário”.

Boaventura de Sousa Santos afirma ainda que a presença da troika em Portugal “trouxe uma defenestração, um insulto, um atraque total à nossa autoestima. Abriu a caixa de Pandora que é o racismo da Europa do Norte em relação à Europa do Sul”, tratando os portugueses “como um bando de indivíduos preguiçosos que viveram acima das suas posses, à custa dos bancos alemães” quando, remata, “foi exatamente o contrário – os bancos alemães é que viveram à nossa custa durante estes anos”.

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