Ana Sofia Pereira é uma das 18 jovens que em setembro de 2013 se inscreveu no curso profissional de cerâmica, para aprender a manusear os "teques" e a dar as mais variadas formas ao barro.
"Era para seguir um curso de letras e humanidades, mas quando soube deste curso fiquei interessada. Achei que seria engraçado fazer coisas diferentes do habitual", apontou.
Depois de dar mais umas voltas a um pedaço de argila, que pretende transformar num jarro, a jovem admite que nem todos levam o mesmo jeito, mas que espera sair do curso de três anos - que lhe dará equivalência ao 12.º ano - com conhecimentos suficientes para poder lançar-se na área.
"Não quer dizer que vá viver só da olaria, mas gostava de poder conciliar com um outro trabalho", sublinhou.
A partilhar a mesma bancada de trabalho desde o dia 16 de junho, no Centro Interpretativo da Cerâmica de Resende, está Diana Pinto, uma jovem de 16 anos que diz estar agradavelmente surpreendida com o curso de cerâmica.
"Não era bem o que estava à espera, mas posso dizer que estou a gostar muito. Tenho aprendido várias técnicas e já tivemos oportunidade de fazer várias peças, desde jarras a caixinhas", revelou.
Carlos Lima é o formador que está, há quase um mês, a revelar os segredos da olaria negra aos 18 alunos do concelho de Resende, onde o último oleiro - o mestre Joaquim Alvéolos - morreu há quase uma década.
Aprendeu os segredos da olaria negra em Molelos, no concelho de Tondela, que é um dos poucos centros deste tipo de cerâmica ainda em atividade.
"Dos 55 que existiam no país, só dois continuam em funcionamento. Por isso, fui desafiado a vir incentivar estes jovens para a necessidade de reavivar e inovar esta forma de artesanato extinta há uns anos no concelho de Resende", sublinhou.
Aos alunos vai ensinando a tradição, onde não faltou a recriação da chamada "sonega", que não é mais do que o processo de cozer o barro numa cova cavada no solo. No entanto, também vai introduzindo técnicas mais atuais que permitam ultrapassar tudo o que era mais moroso.
No pátio exterior do Centro Interpretativo de Cerâmica de Resende, Carlos Lima montou um forno com base em tijolo refratário, onde cozeu algumas peças modeladas pelos alunos.
Foram precisas cerca de cinco horas para o processo de cozedura, com o forno a chegar lentamente aos 900 graus, para que depois fosse abafado até ficar sem qualquer oxigénio. Só assim o barro adquire, finalmente a cor negra.
A vereadora da Cultura da Câmara de Resende, Sandra Pinto, sublinhou que o curso de cerâmica nasceu de um protocolo estabelecido entre o Município de Resende e o Agrupamento de Escolas, com o intuito de revitalizar uma tradição secular, que em tempos foi uma das principais atividades económicas do extinto julgado de S. Martinho de Mouros, em Resende.
No século XIX, ainda existiam na região cerca de 40 oleiros, mas a falta de continuidade veio a ditar a decadência desta atividade até à sua extinção.
"Gostaríamos que pelo menos um ou dois alunos se fixassem a trabalhar nesta área. O Centro Interpretativo de Cerâmica está à disposição de todos os que queiram vir a ter um ateliê de olaria negra", concluiu.