"A maior parte das revoluções ao longo da história, pelo menos desde finais do século XIX até aos anos 80-90, fim da guerra fria, não originaram democracias", disse ao comparar a revolução dos cravos com outras, a nível internacional, durante uma conferência na Universidade de Lisboa, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Como exemplos comparativos, Tiago Fernandes (ISCTE-IUL) citou a fracassada revolução alemã de 1918, a revolução austríaca, no período entre guerras, a guerra civil espanhola (1936-1939) ou a revolução grega, no final da II Guerra Mundial.
"Todas estas revoluções fracassam e acabam depois por ser substituídas por regimes contra revolucionários, autoritários de direita", sublinhou, acrescentando ser este o resultado mais comum das revoluções ao longo da história.
No livro 'Portugal 1974 -- 75, A Revolução, Contra revolução e Democracia', a lançar no final do mês, por ocasião da Feira do Livro de Lisboa, o investigador procura responder à questão "por que razão a revolução portuguesa originou um regime democrático".
"No livro, analiso sobretudo a Europa, desde a revolução russa de 1905 até às revoluções democráticas da Europa de Leste e a maior parte das revoluções fracassam tentativas de mudança de regime através de processos revolucionários", adiantou.
"Quando são bem sucedidas, outro resultado é aquilo que se pode chamar uma ditadura revolucionária, ou seja, a revolução é bem sucedida, há uma rutura com o anterior regime e aquilo que se origina é uma vitória das forças radicais que instituem uma ditadura de partido único", indicou, remetendo para a revolução russa, em 1917, a Albânia e a Jugoslávia, durante e a seguir à II Guerra Mundial.
Em Portugal, a transição de regime foi "bem sucedida", o que levou o autor a aprofundar as causas.
Na opinião de Tiago Fernandes, um dos fatores que contribui para uma menor polarização em Portugal e para o reforço do resultado democrático foi o facto de a guerra colonial ter terminado "de forma quase imediata".
"Há uma relação intima entre guerra e revolução", destacou.
Por outro lado, a capacidade de a sociedade civil se organizar em movimentos autónomos, tanto no campo, como nas cidades, desde comissões de moradores a sindicatos, em aliança com partidos de esquerda, nomeadamente o PCP, e com os militares e parte da população urbana da classe média.
"Juntamente com o Movimento das Forças Armadas conseguiram conter, através da mobilização nas ruas, as tentativas de parar a mudança de regime ou de a reverter", lembrou: "Esse é um aspeto bastante importante que derrota a extrema-direita, nomeadamente no 28 de setembro e no 11 de março".
Para Tiago Fernandes, foi também importante "a unidade da esquerda moderada e da esquerda radical", comparativamente com outras revoluções, apesar dos conflitos ao longo do processo revolucionário.
"A esquerda comunista e não comunista, incluindo setores liberais a católicos, estão unidas desde o Estado Novo, no movimento oposicionista (...), isto não acontece na revolução russa ou na revolução alemã ou na Grécia, a seguir à II Guerra Mundial", explicou.
O investigador referiu também o consenso sobre as nacionalizações e o Estado providência, no caso português, que combateu as tentativas de contra revolução da extrema-direita.
"Tanto o PS, como o PCP, o PSD etc.. são todos a favor das nacionalizações. Isso é também uma diferença grande, face ao que dividia moderados e radicais a seguir à I Guerra Mundial e mesmo a seguir à II Guerra Mundial, onde a questão das nacionalizações e de um forte setor público era apenas defendida pela esquerda radical", declarou.
De acordo com Tiago Fernandes, a "esquerda radical" também não se tornou predominante, entre outros fatores, pela própria natureza do MFA, que se definiu como "um movimento de militares revolucionários, mas dentro do que se pode chamar de socialistas democráticos".
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