O afastamento provisório do músico Rui Veloso serve de mote para o arranque da conversa do Diário Económico com o fadista Carlos do Carmo que revela não se sentir desiludido com o país mas assume ter “profundos momentos de tristeza” porque, diz, “não há direito de humilhar tanta gente. Não me venham com rábulas”.
“Não é cada um para seu lado a tomar decisões. Vamo-nos juntar e usar a força que temos, que não é pouca. Não vou usar a palavra Povo, que está gasta. A população desta terra gosta de nós. Vamos usar essa força”, apela Carlos do Carmo a todos os artistas, sustentando que “não somos um verbo de encher”.
Na opinião do fadista, manifestada nesta entrevista ao Diário Económico, “não basta ganhar a vida. Não basta. O povo é generoso. Paga o ingresso, paga o artista. Tudo bem. Não tem inveja de que o artista tenha uma casa boa. Mas o artista tem de estar atento a tudo o que se está a passar à sua volta e não é possível dar esmola a uma pessoa, completamente envergonhada no meio da rua, que olho e vejo que não estava habituada a pedir esmola e precisa do dinheiro para comer. Isso é uma coisa insuportável. É de uma grande indignidade”.
“Temos todos culpa, não somos humildes. Ninguém quer assumir a sua parte. A coisa mais fácil é dizer: os políticos, os políticos, os políticos”, refere Carlos do Carmo, esclarecendo que até conhece “políticos decentes, não são muitos, mas conheço, têm sentido de serviço público” e “estão em vários partidos, num leque alargado”. Mas, acrescenta, “gente decente são agulhas em palheiro”.
E qual é a saída para esta situação? “Quando [as elites] virem os jovens na rua a sério, isto vai mudar. (...) As elites políticas ou ganham juízo ou pode-lhes acontecer alguma coisa de muito desagradável”.
Parafraseando Fidel Castro, o fadista português, que recentemente foi galardoado com um Grammy, remata: “’Não tenham medo da guerra nuclear, os ricos não querem morrer’”.