"De acordo com o rácio recomendado, deve haver um enfermeiro para cada 350 famílias. Ou seja, seriam necessários 288 enfermeiros e de momento apenas há 148" no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Pinhal Litoral, observou José Carlos Martins, presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), presente na concentração.
Segundo o presidente do SEP, "os enfermeiros estão a trabalhar por dois, estão cansados, trabalham mais horas e num ritmo mais intenso", ficando "coisas por fazer", como é o caso do trabalho de prevenção.
Num ACES que abrange cerca de cem mil famílias, esta situação está a afetar, entre outros, "os diabéticos, por não poderem ter consultas regulares", "as crianças com menos de um ano de idade, em que não é possível fazer visitas regulares" e "o trabalho com hipertensos também sai afetado", alertou José Carlos Martins.
O presidente do SEP falava à comunicação social durante a concentração de enfermeiros daquele ACES, que abrange os concelhos da Batalha, Leiria, Pombal, Porto de Mós e Marinha Grande, que estão hoje em greve, entre o meio-dia e a meia-noite.
Após a concentração, os enfermeiros reuniram com o presidente da ARS do Centro, José Tereso.
Paulo Anacleto, coordenador regional do SEP, disse à agência Lusa que, na reunião, a administração regional informou que propôs ao Ministério da Saúde a contratação de mais dez enfermeiros para o ACES Pinhal Litoral, que se irão juntar aos dois novos enfermeiros que entraram no início de agosto.
"É manifesta e claramente insuficiente e vamos continuar a lutar para que não sejam apenas mais dez enfermeiros", frisou Paulo Anacleto.
Durante a concentração, onde se viam alguns balões pretos, enfermeiros empunhavam cartazes onde se podia ler "enfermeiros dizem não à exploração" ou "dotações seguras salvam vidas".
Paulo Gomes, enfermeiro no Centro de Saúde da Marinha Grande há seis anos, disse à agência Lusa que, devido à falta de profissionais, tem de "trabalhar a dobrar", notando "a sobrecarga no dia-a-dia".
Ana Laura Baridó, também enfermeira naquela centro de saúde, sublinhou que "há uma discrepância entre o número de enfermeiros e as necessidades" das unidades.
Os enfermeiros estão "hoje mais longe da população, porque não têm o tempo necessário", observou, frisando que "a maior parte dos enfermeiros faz mais do que as 40 horas" semanais.
"Estamos cansados e ninguém nos ouve", concluiu.
Até ao momento, a agência Lusa não conseguiu obter um comentário à situação por parte da ARS do Centro.