"Por virtude de não existir oferta de transportes públicos que assegurem o trajeto entre Leiria e Alvaiázere, em princípio, o Ministério da Justiça assegurará o transporte dos oficiais de justiça, mostrando-se, assim, afastada a possibilidade de autorização de deslocação em carro próprio", justificou à agência Lusa a tutela, na sexta-feira.
Pelas 08:30, os 12 funcionários judiciais estavam à porta do Palácio da Justiça de Leiria, onde os aguardavam dois táxis com destino a Alvaiázere. Uma das viaturas partiu por volta dessa hora com oito pessoas; outra, com mais quatro funcionários, vai sair de Leiria depois da tomada de posse dos magistrados judiciais.
Outros oficiais também compareceram no local para manifestarem o seu apoio aos colegas e o desagrado pela decisão da tutela.
"Hoje eles, amanhã nós", justificou uma funcionária.
Uma das oficiais de justiça colocada na 1.ª secção de Comércio, Graça Cardoso, afirmou que "ninguém está preparado para fazer esta viagem", com duração de, pelo menos, uma hora.
"Vivo em Leiria. Transferi o meu filho para a escola da área de residência da minha mãe, que é o concelho de Pombal. De segunda a sexta-feira, ele passa a residir com a avó", explicou Graça Cardoso, ao relatar o "transtorno" que a transferência de local de trabalho lhe provoca.
Referindo que "só vai estar ao fim de semana com o filho" e vai deixar de ser bombeira voluntária, a funcionária pública questionou, na eventualidade de ter alguma emergência com o familiar, como se vai deslocar.
Mário Saraiva, de 49 anos, esclareceu que os funcionários deslocados para Alvaiázere "não têm qualquer indicação para utilização de transporte próprio", considerando que o critério que presidiu à transferência foi "a ordenação alfabética".
"Nenhum de nós, de livre vontade, concorreu para Alvaiázere", acrescentou.
O oficial de justiça, que é dirigente do Sindicato dos Funcionários Judiciais, referiu ainda que estas viagens de táxi podem manter-se durante um ano, desabafando que "esta foi a prenda do mapa judiciário".
Aos jornalistas, o administrador judiciário adiantou que a deslocação em táxi foi uma "decisão tomada pela administração, porque não havia transporte público de forma a transportar os funcionários que ficaram colocados no serviço que foi deslocalizado de Leiria para Alvaiázere".
António Nolasco referiu que estas viagens "custam, diariamente, cerca de 160 euros", esclarecendo que esta solução está prevista durar um ano, o tempo que deverão demorar as obras no antigo liceu Rodrigues Lobo, em Leiria, que será a sede da 1.ª secção de Comércio, trabalhos a iniciar em "breve".
O administrador admitiu que o transtorno pessoal se vai se refletir no trabalho.
"O que vai acontecer é que estes 12 funcionários que saem daqui, se viessem para Leiria, chegavam às 08:00, 08:30. Assim, estão sujeitos ao transporte, só vão chegar quando [este] lá chegar. E também trabalham até mais tarde normalmente (...), neste caso não o podem fazer", declarou António Nolasco.