O protesto entrou hoje na derradeira etapa, depois de uma viagem de três dias que termina cerca das 13:00 à porta do Ministério da Segurança Social e que pretende alertar para uma alteração legislativa que permita às pessoas com deficiência, e com necessidade de assistência, permanecer em casa, contratar o seu assistente e dispensar internamento em lares.
"Esta viagem em protesto tem sido muito dura, com algumas peripécias e algum receio inicial pelas condições atmosféricas e por circular em cadeira de rodas pelas estradas nacionais, de Concavada até Lisboa, mas as incógnitas não me demoveram de fazer este percurso porque de uma coisa eu estou certo: esta vida, para mim, não serve", vincou hoje Eduardo Jorge, em declarações pelo telefone à agência Lusa.
Com 52 anos, tetraplégico e ativista do movimento "nos.tetraplégicos", Eduardo disse que a finalidade da iniciativa é a de "chamar a atenção para os problemas dos deficientes motores e idosos" em Portugal e "dizer basta à institucionalização compulsiva por parte do Estado das pessoas com deficiência em lares de idosos, como única alternativa de vida".
O ex-gerente comercial, licenciado recentemente em Serviço Social, foi vítima de um acidente de viação em 1991 que o deixou numa cadeira de rodas, tendo sido institucionalizado.
"Estar internado num lar, para mim, era normal. Durante vários anos foi assim. Eu não sabia nada, não tinha conhecimento nem estava desperto para os meus direitos. Mas ganhei consciência das coisas, olhei para mim e disse: chega. Isto não é vida para mim. Quero ter uma vida independente, quero ser útil à sociedade, quero sentir-me útil e feliz comigo mesmo, não quero ir para um lar distante, quero ficar em casa, junto dos meus, e poder contratar quem cuide de mim", explicou.
Eduardo Jorge já havia realizado uma greve de fome em frente da Assembleia da República, no ano passado, com o apoio do Movimento (d)Eficientes Indignados, tendo-a suspendido depois de ter sido recebido pelo secretário de Estado da tutela e este ter assegurado, na ocasião, iniciar os trabalhos de redação de legislação sobre a "Vida Independente" no final de janeiro último.
"Realizei a greve de fome pelo direito a uma vida independente e digna, e suspendi-a porque obtivemos determinadas garantias e promessas. Pouco ou nada aconteceu até ao momento, facto que me levou a voltar a luta, neste caso, à estrada", notou.
"O carinho, as palavras de incentivo, os aplausos, as buzinadelas e as centenas de pessoas que me esperavam em algumas localidades para me acompanhar e dar ânimo nesta viagem deixaram-me muito feliz e deram-me muita motivação", relevou.
Para o final da jornada de protesto, Eduardo Jorge promete "entregar em mãos um documento reivindicativo para avivar a memória ao secretário de Estado Agostinho Branquinho, que prometeu e não cumpriu".
"Espero que o Governo avance a curto prazo com as medidas acordadas há um ano, caso contrário, a minha luta, que é a de todos os deficientes motores, idosos e de todas as pessoas com necessidade de assistência, vai continuar", prometeu.