O blogue Lens, dedicado à fotografia e da autoria do New York Times, dá esta sexta-feira destaque ao trabalho de Mário Cruz, fotógrafo português que se debruçou sobre os efeitos da crise em Portugal.
Ao jornal nova-iorquino, o fotógrafo formado no Cenjor que já cobriu tropas portuguesas no Afeganistão e acompanhou viagens da Presidência da República aos Estados Unidos, explica que o que o motivou é o facto de a crise em Portugal não ter a atenção que teve em países como Espanha e Grécia.
Não há manifestações violentas como na Grécia, nem despejos em série por dívidas ao banco ao ritmo a que se viu em Espanha. “Mas o dano em Portugal é grande”, diz. Foi por isso que desde o início deste ano se dedicou à procura de sinais mais escondidos da crise.
Do seu trabalho fotográfico e da conversa com o New York Times destaca-se a história do senhor Gomes (Mr. Gomes, pode ler-se no original), um homem que demorou alguns dias a permitir à objetiva de Mário Cruz captar o espaço onde vive. Quando deixou, o fotógrafo português deparou-se com outra dificuldade: subir os cerca de três metros de escadote improvisado que lhe permitiam entrar na casa, também ela improvisada.
Sobre o sítio onde vive, a descrição do senhor Gomes é quase dilacerante: “não me preocupo com a lama e os vermes”, diz. “Apenas não quero ter fome outra vez… aceito o meu destino, se tiver de ficar aqui até aos meus últimos dias”.