No mais recente vídeo do Estado Islâmico a correr mundo, somos brindados com um documentário que procura dar uma versão das origens do Estado Islâmico. A dada altura, surgem as já habituais imagens de marca do grupo: quase duas dezenas de pilotos sírios são decapitados, bem como Peter Kassig, mais um ocidental.
As autoridades têm tentado identificar os jihadistas protagonistas do vídeo. Suspeita-se que um deles seja Abou Uthman, um lusodescendente em França que em tempos terá tido como apelido Santos. A Sábado falou com este jihadista de origens lusas, de 23 anos, nas semanas que antecederam a divulgação de mais este brutal vídeo.
Volta, não volta, a conta de Abou no Twitter é bloqueada. Os apelos à violência e as imagens da brutalidade onde habitualmente se vê envolvido – a revista Sábado pormenoriza que até com cabeças humanas joga futebol – são a razão.
Questionado sobre o que levou até à Síria, onde há mais de um ano combate pelo Estado Islâmico, este jihadista que se converteu com 17 anos diz que está ali “para ajudar os muçulmanos”, servindo-se de um verbo generoso, "ajudar", que usa várias vezes ao longo da entrevista. E como tem ajudado, perguntam-lhe. “Com armas”, responde.
Para explicar o que mudou na sua vida em termos religiosos, Abou – que prefere que o tratem por Abdel – serve-se da lógica possível: “antes era cristão e pensava que Jesus era filho de Deus”, diz, adiantando que o Islão provou “que isso era impossível”. Jesus “é um profeta como os outros”. Depois dele veio Maomé. “Como não há mais profetas depois de Maomé, devemos segui-lo”, defende.
Quando aterrou na Síria, Abou – pseudónimo que usa na rede social – estava na al-Nusra, fação da Al-Qaida no país. Chegou ao país com outros seis, “um português”, os restantes franceses. Com o avançar do Estado Islâmico, são muitos os jihadistas que se juntaram ao autoproclamado califado. Abou foi um deles, embora não conte como fez a passagem.
Atualmente, é apontado como um dos prováveis carrascos que surge na tenebrosa marcha de morte no vídeo intitulado ‘Although the Disbelievers Dislike It’. No vídeo, o lusodescendente está ao lado do mascarado Jihadi John, o bitânico que tem executado ocidentais.
Para Abou, “O Islão é a religião verdadeira” e é também uma religião pacífica, defende. Simplesmente, diz, “está pronta a fazer a guerra para instaurar a paz”, conta à revista Sábado.